Há exatos quatro meses, uma laje de 5 x 0,8 m caía, a sete minutos do acesso tricolor à Série B do Campeonato Brasileiro, derrubando sete torcedores das arquibancadas da Fonte Nova diretamente para a morte. A comoção que tomou conta do País chegou a ganhar o noticiário internacional.
Menos de 42 horas depois, o governador Jaques Wagner já anunciava aos quatro cantos o fim da praça esportiva. Arquitetos baianos tacharam a medida de precipitada e populista. Moradores do entorno do estádio se preocuparam.
De lá para cá, porém, pouca coisa mudou. Além da Fonte, o Ginásio Antonio Balbino e a escolinha que funcionava no local também foram interditados. Já a estrutura da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb) e da Vila Olímpica, por exemplo, seguem normalmente por ali. A exemplo do buraco da tragédia, ainda chamando a atenção dos mais curiosos.
IMPLOSÃO Muita gente, portanto, começa a questionar: será que a situação não pode prejudicar a candidatura de Salvador para a Copa do Mundo de 2014? O anúncio das dez ou doze subsedes brasileiras já está previsto para junho. Enquanto isso, o máximo que o Octávio Mangabeira vê de diferença são sem-tetos, cada vez em maior número em seus portões 8 e 9.
De jeito nenhum, garante o secretário de Comunicação Robinson Almeida, porta-voz do Grupo de Trabalho (GT) do governo estadual para o evento. Vamos dar as garantias necessárias de que tudo estará pronto no prazo em que a Fifa quer, que me parece que são dois anos antes da Copa. Temos tempo até 2012.
Segundo ele, seria equivocada qualquer atitude distinta, até agora, por parte do GT. O grupo ainda está estudando qual é a modelagem ideal para o futuro equipamento que vai suceder a Fonte Nova, porque ali precisa ser bastante planejado, explica. Tudo depende de como serão as tres etapas da obra: projeto, construção e operação.
Em relação à primeira, continua a indefinição sobre a maneira de que ela vai se articular com a vizinhança. E se vai se levantar ou não um centro de convenções ao lado.
Como há a decisão do governo para o estádio ser feito e operado pela iniciativa privada, é fundamental que se organize as etapas de forma conjunta. Por isso, acrescenta, não dá para ser igual à reforma de Pituaçu, onde o Poder Público formulou o projeto e ele próprio contratou as empresas. Estamos, inclusive, pedindo consultorias externas para escolher o melhor instrumento jurídico da obra. Toda intervenção que envolve o centro da cidade tem que ser decidido com muito cuidado e rigor técnico, pois é algo vai para as próximas gerações.
Almeida prossegue: As pessoas falam… Pô, tem quatro meses. Mas como vai se viabilizar? Tem área para desapropriar? É preciso tempo, é algo complexo, grande. Não é só chamar uma equipe de operário para derrubar e outra para construir. A demolição ou implosão depende se vai se iniciar do zero ou aproveitar as fundações , entretanto, é ponto irreversível.
PRAZO Ele confirma que já existem empresas interessadas, mas apenas informalmente. Nós não queremos dar divulgação, para que todos possam participar. Em todo o mundo, há grupos especializados em iniciativas deste porte, complemeta, sem desmentir o nome da portuguesa LusoArenas, que esteve próxima de fechar um estádio novo envolvendo a dupla Ba-Vi.
O importante é ser algo perene, que siga dando retorno após o Mundial. Ninguém vai construir uma arena dessa só para três jogos. Ou seja, os grandes clubes do futebol baiano vão ter que sediar partidas nela depois.
Certo, mas será que não dá para adiantar nada de prazo? O ano vai terminar sem nenhuma novidade? O secretário, claro, prefere se esquivar de eventuais cobranças: Não tem como prever essa coisa agora. Vencidas as primeiras etapas, aí sim, poderemos conversar. Mas, no momento, é totalmente precipitado.
A única certeza concedida diz respeito ao Estádio Roberto Santos. O que posso garantir é que Pituaçu ficará em condições de abrigar jogos do Campeonato Brasileiro em julho. A torcida do Bahia, órfã do Octávio Mangabeira e cansada de rodar por Feira de Santana e Camaçari, comemora.
Homens e tratores permanecem em ação, até mesmo no periodo da noite e aos finais de semana. O problema é que a ação civil pública das promotoras Rita Tourinho e Heliete Viana, ingressada no início de março, pede o embargo da obra. E pode ser apreciada a qualquer momento pela 5ª Vara da Fazenda Pública.
Matéria publicada originalmente, por esse mesmo autor, na edição desta terça-feira 25/03/2008 do suplemento A Tarde Esporte Clube
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