Confira entrevista feita por Éder Ferrari, no site Bahia Notícias:
B.N – Quando o senhor entrou no Esporte Clube Bahia e quais cargos já ocupou?
Petronio Barradas – (Com) o presidente Marcelo Guimarães terminando sua gestão, vários conselheiros, e muitas pessoas foram convidadas para assumir o cargo, mas a situação era realmente muito difícil. E hoje muitas dessas pessoas estão jogando as pedras, mas não aceitaram ser a vidraça e isso é natural. Primeiro eu assumi interinamente e em novembro eu fui eleito pelo conselho deliberativo e agora estou deixando o Bahia. Hoje, todo mundo fala de vários nomes, tenho certeza que muitas dessas pessoas são capacitadas para comandar o Bahia, mas quando a situação estava realmente muito difícil, bem pior que hoje, ninguém assumiu. Tenho certeza que, se na época que eu assumi, o Bahia estivesse na Primeira Divisão, disputando Libertadores, com tudo em dia, eu não teria sido o presidente. Hoje é muito fácil falar, mas quem botou a cara na tela para bater fui eu e não me arrependo. Enfrentei tudo que tinha de bom e de ruim e não deixei nada para trás, como aconteceu em alguns clubes aí, (Esporte Clube Vitória) que você sabe muito bem, fizeram o seguinte: “Eu assumi hoje, então só vou me preocupar com hoje em diante, as dívidas da antiga gestão eu deixo de lado”. Essa não é minha maneira de agir, não é ético! Quando você aceita um cargo tem que saber que tem o lado bom e o ruim, do joio e do trigo. Estou terminando o meu mandato, algumas pessoas tentaram por meios ilícitos me tirar, mas não conseguiram porque eu não cometo falcatruas. Fui criado dentro dos princípios principais dos seres humanos como respeito, sinceridade, ética e honestidade. Por isso é que agora estou saindo do Bahia, porque prometi à minha família e a mim mesmo que não iria tentar me reeleger. Saio com o coração tranqüilo porque sei que enfrentei os piores problemas com muita dignidade e coragem e não tive medo de colocar a cara pra bater como muitos que estão aí atirando as pedras não tiveram.
B.N – Mas o senhor pretende continuar ativo no clube?
Petronio Barradas – Eu vou ser torcedor do Bahia sempre e isso ninguém vai tirar. Mas se eu for fazer parte de uma chapa do conselho vou precisar participar normalmente. Mas, assim como aconteceu em 2003, não vou ter vida ativa no clube. Mas claro que se precisarem de mim eu vou ajudar, porque já tive quase todos os cargos no Bahia com situação e oposição no comando e sempre estive disponível para ajudar. Agora não é da minha índole me meter na administração de ninguém, vou ajudar apenas como torcedor.
B.N – Para o senhor, qual o principal motivo da queda do Bahia?
Petronio Barradas – O problema é que hoje em dia o futebol virou comércio e o Bahia passou dificuldades financeiras que às vezes as pessoas de fora não sabem. Tem as despesas e as receitas, e muitas vezes as despesas são muito maiores, principalmente para um estado como o nosso. Se o Bahia fosse de São Paulo, com a torcida que tem, tenho certeza que nossa situação financeira seria outra. Seriamos, com certeza, uma das equipes com a melhor situação econômica. Veja você que mesmo passando por tudo isso, nós não nos dispusemos de nenhum patrimônio, porque eu acho que é importante manter até certo limite. Tivemos crises políticas, de pessoas. Eu criei um slogan, “união e trabalho”, porque se o Bahia fosse unido, fechado, como dizem, estaríamos numa melhor situação. A partir do momento que começou essa desunião no clube você vê que o Bahia começou a ter problemas sérios, porque ninguém consegue trabalhar com uma pressão como essa. Eu costumo dizer que aqui um cisco vira um cesto.
B.N – Como começou essa desunião?
Petronio Barradas – (É uma desunião) de grupos. São tricolores, mas cada um pensa de maneira diferente, isso prejudica e influência negativamente o clube. E isso é que é o pior, mesmo (com) cada um querendo o melhor para o Bahia. Por isso que quando eu fui eleito coloquei aqui dentro gente da oposição, como Ademir Ismerim e Rui Cordeiro. Depois eles tiveram de deixar os cargos por necessidade das empresas deles, já que não eram pessoas remuneradas aqui no Bahia. Mas a partir do momento que uma equipe não trabalha coesa, que as forças se dividem, a situação fica muito complicada. Você pode fazer uma pesquisa em qualquer clube do Brasil (e vai descobrir) que quando começam as brigas políticas internas a coisa desanda.
B.N – Esses grupos são encabeçados pelos ex-presidentes Marcelo Guimarães e Paulo Maracajá?
Petronio Barradas – Para você ter uma idéia, os grupos de Marcelo e Paulo sempre tiveram suas divergências, suas opiniões, mas sempre estiveram aí caminhando juntos. O que eu falo é que subdividiu muito. Você pode reparar que dentro do Bahia tem quatro, cinco grupos. Fora do Bahia têm três, quatro grupos que trabalham separados. Aí você pensa: se todos os grupos fossem unidos, se todos tivessem, inclusive, atendido meu chamamento de “união e trabalho”, as coisas estariam muito mais amenas, estava todo mundo remando no mesmo barco, na mesma direção. Mas quando ocorre essa quebra da harmonia política você pode ter certeza que o reflexo dentro do clube vai chegar, pode ser a médio, a longo, ou no caso do Bahia, a curto prazo.
B.N – Mudando um pouco de assunto, a impressão que se tem no Fazendão é que a divisão de base já não tem um tratamento especial. O senhor concorda?
Petronio Barradas – Na minha época de divisão de base o Bahia estava com a vida financeira equilibrada. Não que estivesse seguro, mas tinha dinheiro para investir. E divisão de base é isso, investimento. Se você tem capital, pode investir. Se não tem, tem que dar prioridade de pagamento. Tem dirigente que diz que a torcida não paga, que é a quinta renda de um clube. Eu não concordo. A renda de jogo é uma renda efetiva. E eu provo isso no ano passado, quando o Bahia enfrentou problemas financeiros, mas muito mais amenos do que esse ano por causa da torcida na Fonte Nova. A renda tem duas vertentes: a presença do torcedor em um time de massa é diferente. O atleta que vem jogar aqui no Bahia vem pela força da torcida, de sentir a presença constante e forte. A outra vertente é a financeira, porque você não tem apenas um jogo no mês, não é verdade? Então esta renda ajuda sensivelmente. É uma parte do filão financeiro muito importante e infelizmente esse ano não (a) tivemos.
B.N – Então, a torcida pode perder as esperanças em ver surgir um grande jogador da divisão de base do Bahia?
Petronio Barradas – Nós temos hoje 15 garotos da base na equipe profissional mesmo com toda dificuldade. Nosso juvenil e infantil estão na final do Baiano. Temos um grupo de trabalho 1987/1988 que está sobe o comando do professor José Carlos Queiroz, que ano que vem podem render frutos ao time principal. Acontece que quando um clube vai pra Série C ele perde a visibilidade, e sem mídia fica complicado. A partir do momento que o atleta não está sendo acompanhado fica difícil conseguir manter o investimento. Na realidade, para manter uma divisão de base de forma ativa mesmo, precisa ter um capital em torno de R$ 300 mil por mês, e o Bahia, infelizmente, não tem isso. O que todo clube faz, além de buscar jogadores para serem utilizados no futuro, é um projeto social, porque a maioria não tem a felicidade de conseguir sucesso como profissional de futebol, e as pessoas têm que entender isso. É complicado fazer isso sem recursos, porque você acaba tendo que escolher entre pagar os salários, tentar ter um time forte ou investir na base pensando no futuro, que pode não render tantos frutos.
B.N – Então, o senhor concorda que a base do Bahia está deixada de lado?
Petronio Barradas – Mesmo com toda dificuldade ainda conseguimos negociar Danilo Rios, Rafael Bastos, Eduardo, Elias, o que prova que nossa base ainda é forte. Mas acontece que nós ficamos dois anos sem mídia porque estávamos na Série C, agora quando retornamos a Série B perdemos nosso estádio e o outro não ficou pronto. Então, você tem que saber pesar as coisas: o que é mais importante? Pagar o fornecedor ou investir em estrutura? Tem a justiça do trabalho, os funcionários, todas as despesas, então tem que saber pesar o que é mais importante, o que pode esperar um pouco, e usar o pouco recurso que temos para tentar manter as coisas funcionando.
B.N – Se o problema é exclusivamente financeiro, não faltou ao clube buscar parcerias?
Petronio Barradas – O Bahia procurou suas parcerias. Um clube como o Bahia, por exemplo, não pode (se) terceirizar, porque seria muito perigoso. Os empresários começariam a se achar os donos do clube e (poderiam) querer ditar as normas. Em um clube de menor porte isso é possível, porque eles bancam este clube como um todo. Tem até treinadores por aí que dizem que fazem parte de parcerias com empresários de atletas em formação.
B.N – Falando em treinadores, o ex-técnico do juvenil do Bahia, João Marcelo, em entrevista ao “Bahia Notícias” expôs toda a dificuldade de trabalhar na base do clube atualmente, inclusive de que estava há mais de um ano sem receber seus vencimentos…
Petronio Barradas – Com relação a João Marcelo, ele teve todas as condições de trabalho. Tanto teve que formou um juvenil que tem tudo para ser a campeão baiano agora. Tudo com trabalho e recurso do clube, ele teve toda liberdade de ação. E, quando ele deu a entrevista, esqueceu de dizer que já havia recebido metade dos seus salários. Na realidade você tem obrigações na relação capital x trabalho que tem que ser cumpridas, mas ninguém é obrigado a ficar em lugar nenhum, ele ficou porque quis. Sabia da condição financeira, mas também sabe da mídia que tem o Bahia, e resolveu investir seu trabalho em cima disso. Tanto é que conseguiu uma transferência para o mundo árabe. Na saída dele ele veio aqui, agradeceu ao clube e falou que pretende voltar para dirigir o time profissional. E como é muito esforçado e o trabalho dele está crescendo, tem tudo para ser um grande treinador aqui no Bahia.
B.N – E o Luís Pondé, que ficou apenas meia hora no cargo de treinador dos juniores, o que foi que aconteceu?
Petronio Barradas – Ele ficou meia hora no cargo porque o supervisor, Enaldo Rodrigues, precisou interferir em uma briga que houve entre dois atletas e ele ficou do lado de fora olhando, sem fazer nada. Então, ele achou que o professor Ednaldo interferiu, mas ele é que estava na linha de frente e tinha que resolver o problema. Como ele não o fez, o superior dele foi lá e fez para dar o exemplo. E por isso ele não continuou.
B.N – Presidente, passando agora para o profissional, sua diretoria é sempre criticada por falta de planejamento, principalmente pela constate troca de treinadores. O que o senhor acha dessas críticas?
Petronio Barradas – A mudança de treinadores às vezes é colocada como falta de planejamento e não é. Nós contratamos Paulo Comelli desde novembro, início de dezembro do ano passado, e ele já estava aqui trabalhando na montagem da equipe. O que acontece, às vezes, é a dificuldade de contratar atletas. Ou os caras ganham pra lá de R$ 50 mil, ou então vem o problema da série que o Bahia está disputando agora. Infelizmente, muitos atletas foram convidados para vir jogar aqui na época do Comelli, mas preferiram aguardar uma proposta da Primeira Divisão. Infelizmente esta é uma realidade. Entretanto, ainda assim, conseguimos trazer alguns jogadores de qualidade e que estavam sendo disputados no mercado pela força da marca do Bahia.
B.N – Então porque quatro treinadores?
Petronio Barradas – O Comelli não deu certo porque teve problemas com o grupo. Depois nós trouxemos Arturzinho e, inclusive, conversamos com o grupo para saber como ele era visto pelos jogadores, porque tem que haver integração entre comissão e atletas. E ele saiu daqui não porque a direção colocou ele pra fora. Na verdade, ele sentou aqui em minha frente faltando uma hora para a viagem do jogo contra o Fortaleza, logo após aquela invasão que teve aqui. Você sabe que a invasão deu uma negativa muito grande nos jogadores, que até hoje tem atletas que não podem ver um ônibus entrar aqui. Um dia desses, teve um ônibus de uma escola aqui e já correu o burburinho de que tinha gente invadindo de novo. Voltando a Arturzinho, ele sentou aqui e disse que não estava mais feliz, que não estava satisfeito, mas eu não aceitei naquele dia porque o Bahia estava viajando para o jogo e não podíamos ficar sem treinador. Eu esperava que a viagem e o fim de semana servissem para acalmá-lo, pra voltar com a cabeça fria. Mas quando chegou a segunda-feira ele confirmou tudo, mesmo porque o time ainda tinha perdido de 5×1, o que não tem nada a ver, e ele repetiu tudo que já tinha dito. O que eu acho é que ele sentiu muito aquela invasão, ficou receoso, atingiu muito a ele como treinador. Depois, com a vinda de Roberto Cavalo, Arturzinho saiu. Você tinha que trazer um treinador que tivesse a mesma vibração, mas ele não deu certo e a gente tinha que mudar. Ou você muda o treinador ou muda todo o elenco. Não é bom mudar, não é a nossa característica. Ano passado Arturzinho ficou o ano todo e esse ano a intenção era a mesma com o Paulo Comelli, mas infelizmente não deu certo.
B.N – O senhor falou que esperava que Arturzinho mudasse de opinião sobre o pedido de demissão após o final de semana, mas a contratação de Roberto Cavalo já estava bem encaminhada…
Petronio Barradas – Roberto Cavalo foi contratado no outro dia após a saída de Arturzinho. Mas, também não podemos ficar parados. Um clube de futebol tem sempre que ter nomes de treinadores, de comissão técnica, porque estamos sempre no risco deles terem problemas com o grupo, o trabalho não ser de qualidade, ou receberem uma proposta e pedirem para irem embora. Por isso, temos que sempre estar com alguns nomes na pauta, para evitar ficar três, quatro dias sem comando. Foi tudo uma questão de circunstância.
B.N – O senhor se arrepende de ter contratado Roberto Cavalo?
Petronio Barradas – Não vou dizer que eu me arrependo porque não fiz, o departamento de futebol não fez. O que acontece é que trouxemos um profissional que tem vários clubes no currículo, conhece o futebol baiano e as referências eram as melhores possíveis. Tinha um interesse imenso em trabalhar no Bahia, e nós achamos naquele momento que a dinâmica dele seria especial para esse grupo. Infelizmente não houve um encaixe na filosofia de trabalho dele com os atletas. Você vê o exemplo atual do nosso Ferdinando. Ele chegou agora e conseguiu passar sua forma de trabalho, teve uma integração com o grupo. Ele usa a chamada linguagem do boleiro e as coisas estão melhores. Além do mais, ele é conhecedor da capacidade dos nossos jogadores e conhece praticamente todos de jogar contra, já que enfrentou o Bahia cinco vezes desde o ano passado. Inclusive, depois que Arturzinho saiu, tentamos trazer o Ferdinando, mas ele, por questão de caráter e fidelidade, continuou no ABC.
B.N – E a contratação excessiva de jogadores que não renderam?
Petronio Barradas – Tem pessoas que dizem assim: “quem tem que contratar é a diretoria; quem tem que contratar é o treinador”. A realidade é que fazer contratações é sempre um risco. Você traz um jogador de nome, de qualidade comprovada e ele chega aqui e não rende. Por que o atleta antes de tudo é um ser humano. Ele tem a adaptação dele, da família, na regionalidade, na metodologia de trabalho, o ambiente que ele vive na cidade. Então, tudo isso ele muda radicalmente, em 24, 48 horas. E com cada um acontece de uma maneira diferente. Às vezes até mesmo a família, a mulher, não gosta do lugar, os filhos, e não deixam o jogador jogar tranqüilo. Você tem que saber dosar qualidade com quantidade, mas o que acontece é que com a situação financeira do clube, fica complicado juntar quantidade e qualidade. E mesmo com “aquela” qualidade, você precisa ter quantidade.
B.N – Qual é a participação dos treinadores na contratação de jogadores?
Petronio Barradas – Muitos jogadores foram indicados por treinadores. Então perguntam “mas por que a diretoria não fala que o jogador foi indicado pelo treinador e ficou aqui?” Nenhum jogador é contratado pelo Bahia sem o aval dos treinadores. A não ser os que já estavam no clube e que nós renovamos o contrato pela performance na última temporada. Acontece que contratação é risco e temos que ao máximo tentar aliar quantidade com qualidade.
B.N – Então o senhor concorda que houve excesso de quantidade?
Petronio Barradas – Por exemplo, os Brunos (Cazarine e Meneghel). Foram indicações do treinador Paulo Comelli, que sentou ali naquele mesa e analisou, analisou, assinou embaixo, como foi o caso próprio Galvão também, que é um jogador de qualidade e veio por indicação, pra você ver que existem os dois casos e como é arriscado contratar. Os próprios treinadores é que às vezes trazem o atleta, porque eles vêem os jogadores da base e acham que não estão prontos pra jogar. A gente não faz restrição nenhuma para que usem os atletas da base. Por exemplo, Paulo Roberto já estava aí, Ananias foi utilizado por um treinador e por outro não. A queda e a ascensão no rendimento são típicos dos atletas da base, que estão começando e ainda não têm a maturidade.
B.N – Dentre tantos problemas, qual foi o principal fator para o Bahia estar fazendo uma campanha tão fraca na Série B?
Petronio Barradas – O que abalou realmente foi a invasão. Basta ver o desempenho antes e depois. Você pode falar com os jogadores (e vai notar) que até hoje eles não conseguem jogar com absoluta segurança. Aquilo assustou demais os atletas e eles estão intranqüilos.
B.N – Voltando a falar na política do clube, dizem que o verdadeiro presidente do Bahia é o conselheiro Paulo Maracajá e que o senhor está ocupando a cadeira apenas para que ele não perca o cargo no Tribunal de Contas dos Municípios…
Petronio Barradas – Aí eu vou ter que dizer que Édezio Goés é presidente do Bahia, que Edmilson Aragão, Edmilson Sampaio, Marcelo Guimarães, Ruy Acioly como está aqui. Tenho que falar que Wellington Cerqueira, que Paulo Maracajá, que Antônio Moreira Garrido, Rui Cordeiro, são presidentes do Bahia. Porque são pessoas, entre outros, só citei alguns, que estão do meu lado e eu não posso fechar as portas para quem quer ajudar o Bahia.
B.N – Então o conselheiro Paulo Maracajá não tem voz de comando?
Petronio Barradas – Não, ele não tem a voz de comando, mesmo porque as pessoas que me conhecem sabem que eu sempre comandei em minha vida, sempre tive funções diretivas, de comando, entendeu? E não seria Paulo Maracajá que iria sentar aqui e ditar ordem, nem normas. Agora, eu não posso dispensar a experiência e tráfego de influência que ele tem, entendeu? Poucas pessoas falam dele, mas eu já cansei de ligar pra Marcelo Guimarães Filho e falar “Marcelinho, estou indo para Brasília e preciso que você vá comigo conversar com o ministro”. Por isso ele está mandando? Não, eu estou colocando a influência que tem um conselheiro do Bahia em benefício do clube. Até mesmo outros deputados, que não são Tricolores, eu já liguei para falar com a CBF ou outros locais. Maracajá ajuda, mas daí a dizer que ele vai usar a caneta está muito enganado, mesmo porque eu não permitiria, e se tentasse, não estaria do meu lado, porque isso eu não permito dele, nem de ninguém. Jayme (Brandão, assessor de imprensa) está aqui e ele sabe exatamente como eu ajo com minhas coisas. Mas eu não sou dono do Bahia! Eu sou apenas o presidente, estou presidente. Inclusive estou deixando o cargo porque está terminando a minha gestão.
B.N – Então o senhor escuta todo mundo?
Petronio Barradas – Até o próprio Jayme. Eu não ouço só os conselheiros, eu ouço os profissionais que estão do meu lado. Se eu preciso fazer alguma coisa no departamento de pessoal, eu converso com Vomar Sodré. Se tem algum problema no financeiro, eu converso com o pessoal do financeiro. Se tem alguma coisa na imprensa, às vezes eu falo com Jayme, que é um profissional competente, que tem que falar primeiro com ele. Eu não sou político, não preciso falar sobre tudo, ficar no blá blá blá. O clube tem as suas divisões e os seus responsáveis. Isso de Maracajá mandar quem inventou foi a oposição no sentido de desgastar. Não a mim, mas o conselheiro. Colocar em cima dele uma coisa que não existe. Se o Bahia estivesse sendo campeão brasileiro ninguém estava falando que ele manda. Isto é direcionado. Porque não falam dos outros conselheiros? Wellington Cerqueira é um que fica aqui, discorda comigo, tem o ponto de vista dele e está sempre nos ajudando. Agora, por exemplo, eu tive uma reunião com o pessoal da “Revolução Tricolor”, tudo de maneira civilizada. Eu fui eleito por meus méritos, não porque A, B e C quiseram, mas porque eu quis. Assim como não tem ninguém que faça minha cabeça para continuar na presidência.
B.N – A saída do senhor é certa, mas não acha que já está na hora de planejar a temporada de 2009?
Petronio Barradas – Sim, mas isso está sendo feito. Aqui tem alguns trabalhos que irão sofrer soluções de continuidade. Tudo que é bom e for bom para o clube está sendo desenvolvido. Mas é claro que a pessoa que entrar terá sua filosofia, seu método de trabalho. Quando eu disse que vou ficar ajudando o Bahia, se quiser ir para um jogo vou comprar meu ingresso, entendeu? Não vou desejar que o presidente que entrar, seja ele quem for, seja campeão do mundo, porque o ego que importa é o de torcedor do Bahia, que é o clube que eu amo.
B.N – E em relação ao grupo de jogadores, já começaram as negociações para a permanência de alguns deles?
Petronio Barradas – Essas coisas estão sendo, vamos dizer assim, desenvolvidas. Mas temos que ter cuidado para não sermos antiéticos e ferirmos a sucessão, porque às vezes o pensamento meu ou seu pode divergir do pensamento de outras pessoas. Pode pensar que não é Marcelo Ramos, é outro atacante. Nós da direção já começamos a sondar alguns atletas, saber o interesse deles em permanecer ou não no Bahia. Mas, como eu já disse, temos que fazer com cuidado porque existe a questão salarial e tudo que envolve esse tipo de negociação.
B.N – Quem o senhor irá apoiar nas eleições para o novo presidente do clube, já escolheu um nome?
Petronio Barradas – Eu estou muito preocupado, porque eu não tenho envolvimento com essa parte política do clube, eu prefiro sempre ficar um pouco à parte disto. Participo, mas fico afastado. Mas você pode ver, por exemplo, os Tricolores que estão do outro lado. Quem é o nome forte deles para a eleição? Surgem vários nomes, mas nenhum deles é confirmado. Nós aqui da diretoria ainda não nos concentramos para buscar um nome. Lógico que todos nós pensamos em alguns nomes, mas deixamos para o momento certo. Entretanto, eu agora, como presidente do clube, estou pensando apenas em conseguir os pontos que faltam para acabar com qualquer risco. A partir do momento que finalizar isso, aí sim, nos concentraremos na política do clube.
B.N – Na parte administrativa, o senhor foi muito criticado por demitir uma funcionária que, supostamente, havia comandado a greve na cozinha no dia 27 de outubro, o que realmente aconteceu?
Petronio Barradas – Temos funcionários com salários atrasados? Temos. A funcionária que foi demitida não saiu por causa da greve, ela já estava na linha de frente e sabe muito bem disso. Agora tem gente se aproveitando dessa situação. Eu não mudei a linha de trabalho que já estava traçada anteriormente. Esta funcionária que saiu veio para o clube para suprir a folga de dona Josefa (uma antiga funcionária do clube) aqui na diretoria. Então ela ficou grávida e não pôde sair depois que dona Josefa voltou. Quando a filha dela nasceu e ela voltou ao clube – e ela sabe a gravidez que teve e que realmente foi muito difícil -, sabe o quanto ela foi ajudada aqui no Bahia, e nós deixamos ela aqui esses meses por causa das dificuldades que teve. Mas ela não tinha muita função aqui, porque veio apenas para cobrir uma folga. Assim como ela, outros funcionários saíram ou vão sair e não tem nada a ver com a greve. Quantas greves já houve aqui e nem por isso ninguém foi demitido, inclusive na própria lavanderia? Eu não seria tão ingênuo, com a experiência de vida que eu tenho, de demitir uma pessoa por ter feito greve. O que aconteceu é que já estava planejado e a gente manteve porque uma coisa não tinha nada a ver com a outra. Inclusive ela não foi líder de nada. Existem tantos funcionários com mais tempo de Bahia e muito mais preparados para liderar esse tipo de movimento do que ela. O grupo desceu como um todo.
B.N – Para finalizar presidente, com todos os problemas já citados, o que o senhor vai deixar para o seu sucessor?
Petronio Barradas – O que eu vou deixar é que pegamos o clube com 14 licenciamentos e hoje estamos aí com mais de 500 e a loja física pronta para sair, além da renovação de contrato com alguns produtos. Mas, a realidade também tem que ser dita. Quando eu assumi, não assumi só crédito. Havia muitos débitos. Eu peguei muitas dívidas trabalhistas e reduzi e muito com acordos na Justiça do trabalho. Claro que outras virão, porque quando você dispensa tem que cumprir os acordos, mas estão muito menores do que eram. Mas se não houver (estes acertos), cada um que entre na Justiça cobrando seus direitos. Assim como eu peguei ônus e bônus, o próximo presidente também terá que conviver problemas e poucas soluções. Infelizmente, isto é o Bahia.
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