De Nelson Barros Neto, no jornal A Tarde desta sexta-feira:
“Se quarta-feira um dos participantes do fórum Time de Arquitetos da Copa disse à reportagem ter ficado subentendido, ontem a notícia se confirmou: nada do atual Octávio Mangabeira será aproveitado para o Mundial de 2014, em Salvador.
A decisão vai de encontro ao projeto anunciado no último dia 30 de setembro, após concurso que se estendeu por cinco meses e reuniu seis empresas concorrentes.
Pela proposta da vencedora Setepla Tecnometal, parceira da alemã Schulitz + Partner Architekten autora da reforma do Estádio de Hanover para a Copa de 2006 , pretendia-se derrubar só o anel superior, por entenderse que este está em péssimo estado de conservação e sua recuperação é praticamente inviável.
Metade do inferior ainda seria reutilizado. Agora, não.
Sem a pista de atletismo, retirada por determinação da Fifa, os assentos serão bem mais próximos ao gramado, o que complica uma demolição apenas parcial, argumentou o arquiteto-chefe da Setepla, Marc Duwe, que pela manhã preferia não bater o martelo sobre o assunto. Procurado mais tarde, reconheceu: Somos contratados do Estado. Se é a vontade deles…
Segundo Duwe, que na terça esteve na cidade para reunião onde o tema já foi tratado, seria difícil encaixar um pedaço da arquibancada nesta nova geometria. Poderia causar uma série de problemas, sobretudo de visibilidade, com pontos cegos. Teria que ver se valeria à pena toda essa ginástica, declarou.
Começando-se do zero, os custos serão inferiores, garantiu. Demolir o entorno e manter uma estrutura existente deixa menos opções do que demolindo tudo de uma vez, completou, acrescentando como novidades o aumento de dois para três anéis, a mudança do túnel de acesso de jogadores para o meio do campo e a colocação de um telão no lado oposto ao da abertura, em direção ao Dique.
ENTULHO Preocupado com o que será feito do entulho oriundo de uma demolição, Carl von Hauenschild, um dos representantes baianos do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) que promoveu o fórum de anteontem em São Paulo , assegura existir um documento, de novembro de 2008, onde a própria Setepla se posicionava no sentido da demolição total. Estão preparando a derrubada da Fonte Nova antes mesmo de entregála ao empreiteiro que irá financiála, antes da PPP (parceira público-privada), reclamou.
Também projetista de uma das propostas derrotadas do futuro estádio, o alemão prossegue nas lamentações: Será um gasto duplo. Eliminar um bem público, estimado em mais de R$ 80 milhões, para transformá-lo em pó, às custas do próprio governo.
Colega de Sinaenco, o presidente local Claudemiro Júnior fala em falta de transparência no processo: Eles continuam sem falar nada abertamente. Cada hora já colocam uma coisa na história. Acredito que a sociedade tem sugestões a dar.
Alheio à disputa, Manoel Jorge Dias, à frente do consórcio CDI/Ancoerge, única empresa brasileira especializada em implosão, admite: Da minha parte, não posso esconder que fico contente ao receber uma notícia dessas.
Ainda em 2007, logo após a tragédia que vitimou sete torcedores do Bahia, Dias esteve na área para uma vistoria informal. Foi este grupo que botou no chão a Detenção do Carandiru, o Palace II e o antigo Hotel Stella Maris, entre outros. Pela avaliação que fiz na época, não seria uma implosão fácil, mas viável, avaliou.
ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO ESTADUAL DO ESPORTE, NILTON VASCONCELOS:
A Fonte Nova vai ser demolida agora?
Foi a primeira vontade do governador. Em seguida, começamos a estudar o que poderia ser aproveitado, apostamos nisso e se manteve como proposta até janeiro. Com a visita da Fifa, vieram outras alterações. O projeto do Morumbi, que só será reformado, tem sido criticado pela falta de visibilidade para os torcedores… A partir daí, fizemos reexame da proposta, que resultou, sim, em retomarmos a opção de demolição total.
Além disso, o que muda?
Será um estádio mais compacto e levamos em conta os custos, porque permitirá uma solução mais barata para a cobertura. Constatamos que a Fonte Nova tem uma curvatura diferente de um lado para o outro. E também ficará melhor para os edifícios-garagem, que se envolverão a partir de um declive da arquibancada.
Implosão ou demolição?
Estamos analisando. Há várias hipóteses, inclusive as duas opções juntas, e de aproveitamento do concreto, reprocessado e talvez reutilizado em outros locais da construção. Mas não na estrutura principal.
A intervenção vai acontecer antes de janeiro, data-limite para o início das obras?
O cronograma da Fifa se refere a 2010 como início do processo. E esse processo vai implicar projetos executivos só para a demolição. Então: não.
Quem bancará esse novo gasto? O Estado?
Não contamos com isso. Deverá ficar a cargo das firmas vencedoras da licitação. Temos até o final de julho para concluir o estudo do edital. Como sempre falamos, queremos gastar o menos possível na arena. Só se não tiver jeito, mesmo.”
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