A imagem do jovem torcedor do Bahia capturado e espancado por membros da torcida organizada do Vitória na última sextafeira, 3, iria parar na Internet. Este era o objetivo de Luís Claúdio dos Santos, 19, e Douglas Lacerda, 18, presos pela agressão.Íamos colocar ele de cuecas lá no flog, afirmou Luís.
O flog (espécie de portal pessoal de fotos) tem sido usado por jovens torcedores comuns ou de torcidas organizadas como canal de troca de farpas e ofensas. Pior: tem sido uma vitrine da violência entre as torcidas. Tomamos a camisa para colocar no Orkut e no flogão. Ostentar a camisa é uma provocação, explica a prática o jovem Douglas.
O material furtado à força da torcida adversária é um troféu, segundo confirma Ruan Chagas, 19, integrante da União Bate-Cabeça (UBC), filiada à Torcida Uniformizada os Imbatíveis (TUI). A reportagem acessou ontem alguns flogs de torcidas do Vitória e do Bahia. Encontrou, além de fotos ostentando os troféus roubados, postagens agressivas (muitas com uso de palavrões).
Não adianta mais! Vamos caçar vocês até sumirem!, registra sob anonimato um rubronegro. Terror de volta e agora sem perdão. Resposta vem pior (sic), escreve um tricolor. As manifestações de violência não se restringem aos flogs. No site Youtube (portal onde os usuários publicam vídeos), a reportagem acessou imagens onde os torcedores exibem além das camisas de seus times, armas e balas.
A existência de tais vídeos foi apontada pela socióloga Ana Rita Ferraz. É impressionante, fiquei estarrecida, afirmou.
A professora Mary Castro, doutora em Sociologia pela Universidade da Flórida, analisa que o uso da internet é para se mostrar, num mundo onde a violência se tornou uma linguagem entre os jovens.
Coordenadora de um grupo de estudo de pós-graduação na Ucsal sobre a violência na juventude, Mary considera que os jovens estão imersos num mundo onde há a institucionalização da violência. É um ciclo que vai se repetindo.Os amigos incentivam símbolos de masculinidade, ser macho é ser violento, disse. Temos a substituição do esporte-arte pelo esporte-comércio e pelo esporteviolência, complementou a socióloga.
A pesquisadora alerta que a sociedade e o Estado devem se virar para a juventude. O jovem é energia e adrenalina. Cabe ao Estado e à sociedade canalizar essa energia, afirmou.
VINGANÇA Luís, que queria entrar no Exército e agora vai responder na justiça por roubo qualificado (artigo 157 do Código Penal), explicou que entrou na UBC por vingança.
Entrei na torcida para vingar um amigo que os caras (leia-se torcedores da Bamor) colocaram no hospital, afirmou.
O jovem disse que era frente de comando, cuja função é organizar a logística da torcida. A gente é organizado como grupos de guerras. A frente de comando não pode correr da guerra, por nada, afirmou.
Quando a gente passa de ônibus, perto da igrejinha de Periperi, eles atiram pedras, bombas, contou Douglas, que em novembro vai ser pai. Moradores de Lobato, os dois jovens reafirmaram haver a definição de territórios.
Segundo eles, em Lobato não entram membros da Bamor e em Periperi não entram integrantes da TUI. A equipe de reportagem esteve em Lobato ontem pela manhã. Encontrou com os amigos Ruan Chagas, 19, filiado à UBC, e com Daniel Costa, 23, da Bamor. Isso é mentira de que aqui a Bamor não entra. Sempre passamos por aqui e não acontece nada, disse Daniel. Não existe marcação de confrontos, completou Ruam.
A Tarde
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