O multi empresário Gilberto Bastos jura que não quer mais saber de se meter com futebol. A experiência como vice-presidente na atual administração do deputado federal Marcelo Guimarães Filho (PMDB) deixou sequelas. Em seu dicionário amargo há vaga para termos como decepção, traição, impotência.
Gilberto conta que foi convidado para compor a chapa majoritária na última eleição. Para abraçá-lo, foi criado o cargo de vice-presidente. A ideia era revolucionar o Bahia com um modelo de gestão planejado, sem membros da diretoria anterior, um gestor de futebol subalterno à presidência, abrir o clube para novos sócios, implantar eleições diretas, investir no futebol com responsabilidade, entre outras prioridades.
Mas 60 dias após as eleições, Gilberto foi expulso do clube pelo presidente. Ele me chamou à casa, e na frente de seu amigo Luciano, disse que não precisava de mim. Aliás, que nunca havia precisado. Que se elegeria mesmo fazendo dupla com uma pedra. E não me disse a razão. Ele é político e político não diz tudo. Disse-lhe apenas que meu ombro amigo estava a seu dispor. E ainda está agora.
Gilberto não se surpreende com a situação do Bahia remetido à zona de rebaixamento da Série B após perder em Pituaçu para o Duque de Caxias por 2 a 1, na terça-feira. Fico triste, mas era de se esperar. O modelo de gestão proposto foi por água abaixo. O clube passou a ser comandado só por ele (Marcelo) e Paulo Carneiro.
Pedindo com insistência para não ser questionado e piorar a situação do clube, Gilberto conta que ouviu de outros que sua saída ficou por conta de uma gravação que teria feito de reunião com Marcelo Filho. A harmonia pré-eleitoral estava deteriorada. Ele acha que Paulo Carneiro pediu sua cabeça.
O trato era para governar sem integrantes da administração anterior, presidida pelo militar da reserva Petrônio Barradas; mas Ruy Aciolly, ex-gestor da sede de praia, continuou presidindo o conselho; Carneiro ampliou espaço e passou a mandar. Jogadores passaram a ser contratados recebendo luvas (dinheiro adiantado).
Não era para ser assim, diz. O fluxo de caixa ficou comprometido. O diretor de marketing, Nilton Maia – levado para o clube por Paulo Carneiro – nunca podia atender aos pedidos. O clube não foi aberto aos sócios e tampouco foi implantada a eleição direta para diretoria, lembra Gilberto.
Eu, por exemplo, fui rebaixado de conselheiro titular a suplente e nem sequer pude participar da assembleia que tratou da desapropriação da sede de praia, embora pague R$ 50 mensais de contribuição.
Planejamento
Márcio Freitas, consultor em finanças da DR4 Consultoria e Gestão Empresarial, disse não conhecer a realidade do Bahia com intimidade, mas lhe parece que o clube não tem planejamento de médio e longo prazos, se preocupando em planejar ações para um semestre.
Segundo ele, o tricolor poderia ser uma agremiação bem-sucedida por conta da numerosa torcida que possui, mas lhe falta um homem de negócio que busque parcerias, para explorar a marca, uma política administrativa de resultados e não apenas dinheiro.
Segundo Márcio, o Bahia também necessita pessoas competentes para áreas específicas. É preciso planejar para 2 a 5 anos. É inadmissível que um clube com a marca tão forte viva em eterno estado de penúria. Jogador endividado perde 60% do rendimento. É dado científico, disse.
Márcio lembrou o Vitória. É outra realidade. Eles não estão pensando no título brasileiro, mas com a Libertadores porque sabem que se chegarem lá a exposição na mídia será bem maior e atrairá mais parceiros.
Paulo Simões, A Tarde
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