De Claudio Leal, no Terra Magazine desta sexta-feira:
“Em entrevista por e-mail, o jornalista e escritor João Carlos Teixeira Gomes responde ao presidente do Esporte Clube Bahia e deputado federal, Marcelo Guimarães Filho (PMDB), que afirmou a Terra Magazine, na quarta-feira, 18, ter entrado com uma interpelação judicial depois de ler um artigo contra a gestão do clube, no jornal “A Tarde”. Teixeira Gomes, mais conhecido como Joca, escreveu que “as rendas dos jogos somem pelo ralo (ou pelos bolsos)”.
Guimarães Filho se irritou com a frase e decidiu processá-lo: “Usou um linguajar que merecia que eu fosse buscar na Justiça a reparação ou a confirmação do que ele colocou ali.” O jornalista explica a essência da crítica:
– Um prestigioso jornal informou no mês passado que o Bahia está ameaçado de falência. Só em 2009, o mesmo jornal informou que foram 46 contratações, e o Bahia rondou o rebaixamento! Quer dizer, quatro times de futebol e dois reservas, para nada! Não está claro que tanto dinheiro mal aplicado está indo para os bolsos dos beneficiados pela onerosa política de contratações? Eis o que eu quis dizer, ao escrever, sem citar nomes.
Ex-editor-chefe do Jornal da Bahia (alvo de perseguição do ex-governador Antonio Carlos Magalhães), ensaísta e biógrafo do cineasta Glauber Rocha, de quem foi amigo, Teixeira Gomes enfatiza que está mais preocupado com a honra do tricolor baiano. Campeão nacional de 1959 e 1888, o Bahia está ausente da Série A do Campeonato Brasileiro desde 2003. Chegou a amargar dois anos na Série C, em 2006 e 2007. Na atual temporada, vai se afastando do risco de rebaixamento à terceira divisão. Seu último título profissional foi o Campeonato do Nordeste de 2002.
– Não ataquei nem desejo atacar a sua honra (do presidente do Bahia), pois como jornalista só denuncio aquilo que posso provar, por isso não fui preso nem na ditadura, apesar de bastante processado. Se minha frase foi mal interpretada, já está explicada, e bem mais profundamente em Juízo. Não é a honra das pessoas que me preocupa, mas sim a honra do Bahia. Esta, sim, é que deve mobilizar os tricolores – diz Joca.
Leia a entrevista.
Terra Magazine – O senhor tem uma tradição de lutas na ditadura militar. Como vê a interpelação judicial do presidente do Bahia?
João Carlos Teixeira Gomes – É um direito dele, mas nasceu de uma interpretação equivocada do meu artigo “Como Salvar o Bahia”. No trecho em que ele julga que o ofendi, sequer cito o nome de ninguém. Fiz uma afirmação abstrata, sobre uma coisa que preocupa toda a imensa torcida do Bahia: como é que um clube que arrecada, relativamente, as maiores rendas do Brasil, contrata tanto e tão mal, e só vive na penúria? Um prestigioso jornal informou no mês passado que o Bahia está ameaçado de falência. Só em 2009, o mesmo jornal informou que foram 46 contratações, e o Bahia rondou o rebaixamento! Quer dizer, quatro times de futebol e dois reservas, para nada! Não está claro que tanto dinheiro mal aplicado está indo para os bolsos dos beneficiados pela onerosa política de contratações? Eis o que eu quis dizer, ao escrever, sem citar nomes. A torcida é que merece uma explicação.
Pode adiantar o que disse em sua defesa?
Encaminhei minha defesa ao juiz e tenho absoluta confiança na Justiça da minha terra. Não devo adiantar o que será objeto de apreciação nos autos, mas fico satisfeito em que se saiba que não ataco pessoalmente o presidente do clube, Marcelo Filho, não ponho em dúvida a sua honestidade pessoal, nem a de ninguém da diretoria. O ponto crítico é que vejo enorme desperdício com contratações erradas. A prova foi a péssima campanha do Bahia em 2009, dando continuidade a um vexame de quase dez anos consecutivos – ausência de títulos, divisões inferiores, parco patrimônio, ameaça freqüente de rebaixamento, desespero da fiel e maravilhosa torcida. Haverá alguém que possa negar essa desesperadora realidade?
O senhor integra algum grupo da oposição?
Não me incluo em grupos ou facções. Não patrocino com meus artigos o interesse de ninguém. Penso apenas no clube que meu pai ajudou a fundar, em 1931, tendo sido o seu primeiro goleiro, e um goleiro campeão. Tenho o Bahia no sangue, nada me afastará da sua apaixonada defesa. Se fizesse uma administração que recuperasse o Bahia, o deputado Marcelo Filho já teria meu apoio, como poderá ter. Mas é preciso redemocratizar a vida do clube, abrindo-o a correntes de renovação. A acusação de que o Bahia possui estrutura antidemocrática não é minha, é comentário geral dos torcedores esclarecidos. A cartolagem é antigo mal do futebol brasileiro.
Um jornal baiano disse que “o velho Bahia está chegando ao fim”. É por aí?
Li entristecido essa manchete de um tradicional jornal baiano. Eu, que moro no Rio, estava em Salvador. A situação do Bahia nos campos tem sido humilhante, mas um clube com tal torcida não desaparecerá nunca. É preciso unir forças para salvar o tricolor, que não é apenas um time de futebol, mas sim um patrimônio da Bahia, pelo hino, pelas cores, pelo nome, pela paixão e vibração da torcida, pelas coloridas bandeiras, inigualáveis, tremulando ao vento, nas mãos dos torcedores, num estádio lotado. Nada há de igual no Brasil.
Como ficará a situação?
Fique tranquilo o presidente Marcelo que não ataquei nem desejo atacar a sua honra, pois como jornalista só denuncio aquilo que posso provar, por isso não fui preso nem na ditadura, apesar de bastante processado. Se minha frase foi mal interpretada, já está explicada, e bem mais profundamente em Juízo. Não é a honra das pessoas que me preocupa, mas sim a honra do Bahia. Esta, sim, é que deve mobilizar os tricolores, pois 2009 foi um dos anos mais lamentáveis na rica história do clube, com tantas derrotas, inclusive em seu terreiro. A atual administração entrou para quê? Para mudar esse quadro. Mas não evitou o colapso. O Bahia não pode continuar disputando somente para não ser rebaixado, as arquibancadas querem voltar a sorrir, vendo-o outra vez campeão e na elite do futebol brasileiro. Quem trabalhar para isto terá o meu apoio. Caso contrário, manterei, com serenidade, mas sem temer quaisquer ameaças, o meu direito de critica, exercitado até na ditadura, contra os tiranos. Por isso me chamaram de “pena de aço”, apelido que me enaltece e que muito prezo. Tudo pelo Bahia, que só poderá ser salvo pelo amor e pelo respeito integral às suas tradições, unindo forças em torno do grande objetivo comum. Já escrevi que é preciso deixar que também a oposição cante junto o grande hino da redenção tricolor, pois o único dono do Bahia é a sua torcida. E que dono! “
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