Sob o título “Futebol e Justiça”, o jornalista e escritor João Carlos Teixeira Gomes voltou a escrever sobre o Bahia na seção opinião do jornal A Tarde. Confira:
“Acostumados a ler meus comentários sobre temas gerais, alguns amigos indagam se virei cronista esportivo, pois me tenho dedicado ultimamente aos assuntos do EC Bahia. Não, não virei, mas esse foi meu primeiro desejo na imprensa. Apaixonado pelo Bahia, que tenho no meu sangue por ser filho do primeiro goleiro do clube, o campeão de 1931, o grande Teixeira Gomes, titular da Seleção Baiana, pensei em ser repórter esportivo, mas acabei na reportagem geral. E assim me firmei no jornalismo. Outros amigos perguntam se estou sendo processado pelo presidente do Bahia, Marcelo Guimarães Filho, pois leram algo a respeito na internet, em relação à 15ª Vara Crime de Salvador, com o registro de um mandado de notificação. Aqui, a explicação precisa ser detalhada.
Bem, não há processo, mas sim o que tecnicamente se qualifica de interpelação judicial. O que poderia obter pelo exercício do direito de resposta, enviando ao jornalista uma carta que seria acatada de público com a maior presteza, explicando que não ataquei a sua honorabilidade de dirigente no artigo Como Salvar o Bahia, Marcelo Filho resolveu fazer através de advogado e ingressando em juízo. Ora, creio que devemos resguardar nossos magistrados das interpelações que podem ser explicadas em diálogo franco e direto, tão conhecido é o congestionamento da Justiça com questões que se acumulam, pelo sufocante excesso de pleitos e demandas.
Já enviei as explicações pretendidas, através da competência e do zelo profissional da advogada Rita Passos Zanella. Estando a matéria sob apreciação de um digno magistrado, o juiz Antônio Silva Pereira , não devo agora estender-me, a não ser no interesse do esclarecimento dos leitores, pois o assunto tornou-se público, inclusive através de entrevista concedida pelo presidente do clube.
No artigo Como Salvar o Bahia, publicado em A TARDE em outubro, expondo a decepção da torcida pelo péssimo desempenho do Tricolor em 2009, quando o que se esperava é que a nova diretoria o reconduzisse à elite do futebol brasileiro, escrevi que as rendas que o Bahia obtém e que impressionam a crônica esportiva de todo o Brasil somem pelo ralo (ou pelos bolsos).
Nesta última expressão, que não cita nomes nem particulariza qualquer dirigente, muito menos o presidente, Marcelo Filho viu uma insinuação de desonestidade. Suponho que essa reação é absolutamente fora de propósito. O pior é que, em entrevista ao portal Terra Magazine, ele afirmou (e repetiu) que eu teria dito pelos bolsos de quem dirige, o que nunca escrevi. Deveria responsabilizá-lo pela grave inverdade? Vou atribuí-la a um descuido de linguagem, não farei disso um Dois de Julho. Aliás, por que, numa frase puramente abstrata, ele precisaria entender que o tal bolso era o do presidente do clube?
Não, não chamei o presidente do Bahia de desonesto, pois, como jornalista, só afirmo o que posso provar. Se conhecesse a minha história de resistência e de lutas (e é lamentável que não conheça, pois está registrada até em livro famoso), Marcelo saberia que, durante a ditadura de 64, enfrentei vários processos, sem vacilações, inclusive na Justiça Militar, enquadrado na temível Lei de Segurança Nacional, sem ser condenado em qualquer um deles. E isto precisamente porque o respeito ético, a coerência jornalística e a prudência nas acusações pessoais foram minha tônica invariável.
Não é a honra dos dirigentes que me preocupa, mas sim a honra do Bahia. Não considero o velho Esquadrão de Aço um simples time de futebol, mas sim um patrimônio social do nosso Estado. O que quis dizer, enfim, com a expressão pelos bolsos é que as altas rendas obtidas pelo clube, onze vezes maiores em 2009 do que no ano anterior, segundo A TARDE, foram mal empregadas através de uma onerosa e improfícua política de contratações, dispersando-se, repita-se, pelos bolsos dos contratados, e sem proveito, pois, em campo, os resultados foram reconhecidamente vexatórios. Segundo publicou a imprensa baiana, o Bahia contratou em 2009 o inacreditável número de 46 jogadores, ou seja, quatro times de futebol e dois reservas. Queridos leitores, tricolores ou não, jamais conheci exemplo de ineficiência e desperdício igual no mundo!”
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