A interessante matéria abaixo foi publicada na edição desta segunda-feira do jornal Correio* e acontece um dia após a eliminação do Esquadrãozinho na Copa SP –onde jogadores e funcionários trabalharam sem o salário em dia. Confira o texto da repórter Daniela Leone:
`O uniforme que veste agora tem outras cores. Em uma semana, ficou o vermelho, mas o azul e branco foram substituídos pelo preto. Novas cores e nova casa. Mansur já não faz a bola rolar nos gramados do Fazendão.
Desde segunda passada, ele figura nos campos de treinamento da Toca do Leão. E por lá anda entocado. Por enquanto, a imprensa não pode acompanhar o treinamento do jogador e nem mesmo se aproximar dele.
Fortemente blindado pelo Vitória, Mansur foi proibido de dar entrevista até segunda ordem. Toda essa incomum proteção é reflexo de uma história envolvendo a dupla Ba-Vi e protagonizada pelo lateral-esquerdo de 18 anos. No último dia 3, às vésperas de viajar para defender o Bahia na Copa São Paulo de Futebol Júnior, Mansur deixou a concentração tricolor e não voltou mais.
Uma liminar concedida pela Justiça do Trabalho permitia que o jogador se desligasse do clube, apesar de ter contrato até junho. Os empresários do atleta, Jessé Carvalho e Sandro Vasconcelos, haviam dado entrada numa ação alegando não pagamento de salários, férias, décimo terceiro e falta de recolhimento de INSS e FGTS. O problema estourou este ano, mas começou a ser desenhado no final de 2011.
De acordo com Jessé, Mansur passou a ser assediado por um empresário do Sul do país. A proposta para mudar de clube envolvia um salário aproximadamente cinco vezes maior do que o que ele recebia no Bahia e um alto valor de luvas para adquirir 70% de seus direitos econômicos. “Eu, como empresário, não tenho como esconder do jogador essa proposta e estabilidade. Mas não foi nada como eles estão dizendo, roubado. Mansur disse que ficaria no Bahia, mas que o clube teria que valorizar ele. A proposta foi passada ao Bahia através de (Newton) Mota e ele disse que não cobriria, que o jogador não interessava e que eu podia levá-lo”.
Rival – Ainda segundo Jessé, apesar da proposta ser considerada muito boa, eles não queriam que Mansur fosse morar longe de Salvador e decidiram procurar o Vitória. “Procuramos e eles cobriram a proposta. O Inter e o Santos também queriam o jogador, mas a intenção de ficar no Vitória foi nossa. Aqui a gente está sempre orientando o jogador. Tem três anos que o Vitória não atrasa salário e isso motivou”, disse Jessé, que também é empresário de jogadores como Madson, Vander e Marcone.
Mansur fechou com o Vitória por quatro anos. O diretor das divisões de base do Bahia, Newton Mota, apresenta uma versão diferente. “O cara é titular do time júnior, como não interessa? Ele tá querendo justificar. A negociação com o Bahia começou em outubro e Sandro protelou propositadamente. Disse que veio aqui quatro vezes e eu não atendi. É mentira. Foi tudo feito na calada. Quando a pessoa está de má fé, fica futucando”.
Vacilo – Fato é que o contrato só foi quebrado com seis meses de antecedência porque o Bahia estava desprotegido. O não cumprimento de alguns deveres abriu brecha que resultou na perda de um atleta criado no clube. Mansur chegou ao Fazendão com 14 anos e é o rival quem vai lucrar com os frutos que ele render. “A dificuldade econômica leva a isso, mas isso foi uma raridade e não vai mais acontecer”, disse o vice-presidente financeiro do Bahia, Thiago Cintra. Segundo ele, o clube não está mais desprotegido. “Existiu essa questão do FGTS, mas a situação de todos os atletas foi regularizada. O Bahia não tem mais problema com isso”, garantiu.
Atrasos – Mas ainda há pendências salariais recentes. Os funcionários e atletas da base ainda não receberam o salário de dezembro e nem o 13º. “Há uma dificuldade financeira no mês de dezembro, porque não tem jogos e a gente já sabia que isso iria acontecer, mas a gente já tem uma verba pra receber dentro do novo contrato com a Rede Globo e tô estimando que daqui há uns dez dias a gente já vai resolver isso”, afirmou Cintra.
O caso de Mansur chamou a atenção para um dos problemas da divisão de base do clube, que tem 288 atletas. É verdade que de 2009 pra cá houve melhorias nas condições de trabalho e isso se reflete em campo. Não é à toa que nos últimos três anos 17 atletas foram convocados para diversas categorias da Seleção Brasileira e o time foi vice-campeão da Copa São Paulo em 2011. Mas, apesar disso, falta muito pra base se tornar exemplo.
A verba repassada para o departamento de R$ 250 mil a R$ 300 mil mensais só dá para atender as necessidades básicas. “É suficiente. O Bahia hoje tem uma boa alimentação, tem transporte e dá boa condição ao jogador. Dá para as coisas básicas, mas não sobra dinheiro, tá sempre apertado”, diz Newton Mota.
Problemas – Falta dinheiro, por exemplo, para investir em profissionais experientes. As categorias mais novas são treinadas apenas por estagiários. A suplementação dos atletas costuma ser reforçada por seus procuradores. E, claro, nem sempre é possível participar de todas as competições desejadas. Na maioria das vezes, é preciso pedir ajuda financeira a colaboradores para viagens. Apesar das dificuldades, o clube não tem um projeto de marketing que gere receita para as divisões de base. E o futuro tricolor aguarda.´
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