Um dia após os clubes se pronunciarem oficialmente, com o Bahia sendo favorável à controvertida medida, famosos blogs de tricolores e rubro-negros decidiram se unir contra a chamada torcida única nos próximos clássicos em Salvador. O ecbahia.com mostra os textos de ambos, assim como outras opiniões nesse mesmo sentido. Leia e reflita:
“TORCIDA ÚNICA. ÚNICA SOLUÇÃO?
Por Fábio Domingues, do Bora Bahêêêa minha porra
O assunto é delicado. Devido ao tratamento ridículo dispensado à torcida do Bahia no Barradão e a crescente onda de violência das organizadas, muitos torcedores ainda são a favor da medida da torcida única. Inclusive aqui no Blog, as opiniões são divididas. Eu acredito que essa medida vai punir muito mais o espetáculo do que os causadores de tumulto e vandalismo. Esses, vão continuar marcando suas brigas fora dos estádios, apedrejando ônibus nas imediações, matando-se mutuamente, enquanto a tradição da civilidade e da paz conjunta entre as torcidas baianas, morrerá junto. Uma pena.
É hora de refletir. O que pode ser feito para que as duas torcidas possam assistir um jogo como se fazia há tempos atrás? quando existia a torcida mista e torcedores conviviam pacificamente? Não seria o caso de uma ação mais efetiva visando as torcidas organizadas?
Espero que encontrem outra solução.
No último Bavice do Pituaço fiquei tomando uma no bar do Posto Shell da Pinto de Aguiar onde torcedores dos dois times se reuniram pacificamente, cada um em um canto. A provocação existia, mas sempre na paz e no bom humor, como é característico da maioria dos baianos. No meio do bar, uma espécie de torcida mista, onde eu me encontrava com vários amigos (tricolores e vices) bebendo uma gelada e curtindo a resenha. Se a medida for adotada, tudo isso vai acabar. É justo?”
“NÃO SEREMOS REFÉNS DA BARBÁRIE!
Por Franciel Cruz, do Victoria Quae Sera Tamen
A melhor definição sobre esta província lambuzada de dendê e de boréstia foi feita pelo menino Otávio Mangabeira. A Bahia está tão atrasada que, quando o mundo se acabar, os baianos só vão saber cinco anos depois. Touché!
Porém, quando o tema é estupidez, perdoem-me os gaúchos pela falta de modéstia, estamos sempre na vanguarda. Não foi à toa que o mesmo Mangabeira proferiu o axioma definitivo que, de tão verdadeiro e repetido, já se tornou um clichê. Pense num absurdo, na Bahia tem precedente.
E para que não me acuse apenas de só tergiversar sobre o pretérito (seja lá que porra isto signifique), informo que neste 3 de abril do ano da graça de 2012, também conhecido como terça-feira, as otoridades baianas estão reunidas para conspirar contra o destino do Ba x VI e do Brasil o que dá no mesmo. Para que vocês não se percam neste emaranhado de prosopopeias, encerro este terceiro parágrafo fazendo algo que contraria minha religião: serei objetivo. Seguinte é este. Estão querendo transformar Salvador na primeira capital a ter clássico com apenas uma torcida no estádio.
É graça uma porra desta ?
Ah, sim, antes que algum apressado venha dizer que estamos atrasados, pois Minas Gerais já saiu na frente nesta demência, informo que o caso mineiro ficou restrito ao interior. E a restrição só ocorreu lá, única e exclusivamente, porque não tinham condições de usar nem o Mineirão nem o Independência. Então, o título de capital que pode inventar a infâmia é nosso, ninguém tasca.
Porém, não deixa de ser verdade que Minas serviu de inspiração aos nossos dementes. Afinal, uma outra tradição cara aos mandatários baianos de todas as épocas e (baixo) quilate é macaquear decisões ineficazes do sul/sudeste maravilha.
O mais triste de tudo isso é que os donos do poder na Bahia fazem questão de ignorar nossas peculiaridades. Agora mesmo, esqueceram as potencialidades de nossa bela orla e a entregaram graciosamente à especulação imobiliária para concretizar um ridículo processo de miamização.
Derivo, derivo, sei, mas o fato é que nunca se respeita as nossas boas tradições. Voltemos ao Ludopédio. Ao contrário de outros centros urbanos, a relação das torcidas rivais aqui sempre foi marcada por uma, como direi, gentil sacanagem, com um pouco mais de pimenta aqui ou acolá. Há pouco mais de uma década, por exemplo, tínhamos um espaço para a torcida mista, onde fanáticos do Bahia conviviam no mesmo cimento que sectários do Vitória.
Então, em vez de trabalhar no regaste desta cultura de civilidade, os homens da lei e da ordem querem impor a cultura do medo. Usam como precário pretexto umas rusgas entre as torcidas organizadas das duas agremiações para espalhar o pânico e aprovar esta medida proibitivamente idiota.
Por falar em medo, na mesma semana em que houve a primeira reunião para se debater esta estupidez de uma torcida só aqui na Bahia, Eduardo Galeano dizia o seguinte em entrevista ao La República, do Uruguay, o lared21i. Te enseñan a ver al prójimo como una amenaza y te prohíben verlo como una promesa o sea el prójimo, ese señor, esa señora que anda por ahí, puede robarte, violarte, secuestrarte, engañarte, mentirte, rara vez ofrecerte algo que valga la pena recibir. Creo que eso forma parte de una dictadura universal del miedo. Estamos entrenados para tener miedo de todo y de todos.
Pois muito bem. Enquanto eles semeiam o medo, e ganham adeptos de conveniência, nós decidimos apostar na esperança de que é possível (e preciso) conviver com os amigos que escolheram outra equipe para torcer sem que isso signifique capitulação.
Foi assim que, com a autorização dos integrantes do Movimento Somos Mais Vitória (MSMV), contatei o pessoal do Bora Bahea Minha Porra (BBMP) para, juntos, levantarmos a bandeira unificada do respeito ao torcedor, que merece ver seu time nos estádios dividindo o mesmo espaço que seu adversário.
Salvador não vai ser a primeira capital a implantar a segregação das torcidas, pois já decidimos que não podemos e não vamos ficar reféns da barbárie.”
“QUEREM MATAR O BA-VI
Por Marcelo Santana, do Correio*
O novo mi-mi-mi nos bastidores do futebol baiano é por torcida única nos Ba-Vis, caso aconteçam na semi ou na final do Baiano. Aí eu me pergunto: então para quê Fonte Nova?
É melhor o governador Jaques Wagner ligar para o chefe do consórcio Odebrecht/OAS e dizer que não quer mais estádio de Copa, pois o futebol da Bahia morreu. A gente se vira com Pituaçu, Barradão e esses campos do interior.
Já acabaram com a torcida mista o maior orgulho dos bons baianos que vão a estádio -, inventaram 10% para os visitantes (aliás, um prato cheio para os covardes, pois no nove contra 1 todo mundo vira homem, como diz meu amigo Emmerson José) e agora querem ampliar essa assepsia nas arquibancadas. Parece Dia da Mentira. Não é!
Agora me diga como fazer do futebol um negócio sério e bom espetáculo se, no nosso clássico, umas autoridades só querem deixar ir metade dos interessados? Nunca, vou repetir para você, leitor, decorar: nunca um torcedor morreu dentro de um estádio de futebol na Bahia por causa de briga. Toda violência, baderna, covardia, carnificia e desrespeito acontecem fora dos estádios, nas ruas.
A culpa pelo medo em dias de jogos não é do futebol, mas é um problema de segurança pública. O que já aconteceu na Bahia foi homicídio. Crime é com a polícia e a Justiça.
O futebol da Bahia viu sim morte em estádio por descaso público, como foi a tragédia da Fonte Nova. E agora querem botar na conta do torcedor a questão da segurança pública. A família brasileira ama o futebol alegre, de vida, gozação, abraços e risos. Não deixem tirar isso de você. Muito menos no Ba-Vi.”
“VAMOS PERDER O JOGO?
Por Victor Uchôa, do Correio*
Quando penso na torcida mista da demolida Fonte Nova, não penso numa figura abstrata sobre a qual ouvi falar na mesa do bar. Eu estive lá. Ganhei clássicos na torcida mista. Perdi também. Fiz gozação no meio da torcida mista. Ouvi chacota. Mas nunca vi uma briga na torcida mista.
Fora do estádio, meu baba semanal é uma torcida mista, assim como a redação do CORREIO. São Joaquim é uma torcida mista. O Porto da Barra idem. A fila do cinema é uma torcida mista e, pelo menos que eu saiba, ainda não criaram sessões específicas para tricolores e rubro-negros. Mas querem fazer um Ba-Vi com torcida única.
Esta anomalia pode ser referendada na tarde de hoje, em reunião na sede do Ministério Público Estadual, no Centro Administrativo da Bahia (CAB). Se confirmado o absurdo, este será o dia em que os torcedores de verdade terão sido derrotados pelo time que une, no mesmo vestiário, os imbecis e os incompetentes.
Os imbecis não gostam de futebol. Eles gostam é de arruaça. O imbecil não discute o jogo, a tática, o campo, a tabela ou o golaço. Ele quer saber quantas camisas do time adversário foram queimadas na semana. O imbecil vai para o estádio armado e apedreja ônibus. Em grupo, o imbecil é um ser supremo, onipotente e destemido. Sozinho, esconde-se como um rato dos imbecis que emergem da trincheira oposta, cuja única diferença é a cor da estupidez.
O imbecil usa o futebol como desculpa para dar vazão às suas frustrações cotidianas, como o trabalho indesejado, o serviço mal pago e o amor feito depressa ou sem tesão (se é que o imbecil faz amor). O imbecil não torce, ele vinga a própria vida. Não duvide: o imbecil nem sabe o que é torcer.
Já os incompetentes são todas as autoridades que não conseguem proporcionar ao cidadão das grandes (e pequenas) cidades uma mínima sensação de segurança, com ou sem futebol na ordem do dia. Taticamente perdidos, os incompetentes são incapazes de deter a minoria de marginais travestidos de torcedores e quem paga a conta é a maioria que sabe brincar.
Os incompetentes já tiveram todo tipo de ideia: torcidas organizadas sem camisa no estádio, torcida sem bandeira e até torcida (na Bahia) sem batuque. Não demora, proíbem a torcida de gritar. Há um tempo, trouxeram pra cá a brilhante cota de 10% para os visitantes, estimulando a segregação e a hostilidade. No rebote, criaram o risco de uma iminente tragédia, pois, via de regra, o espaço destinado aos rubro-negros não os comporta em Pituaçu e os espaço destinado aos tricolores não os comporta no Barradão. Agora, como que reconhecendo a própria incompetência, os incompetentes propõem a torcida única.
Um aviso aos incompetentes: se os imbecis quiserem mesmo trocar tapas (ou tiros) com outros imbecis, isso vai acontecer em qualquer lugar, a qualquer hora do dia ou da noite, e vocês só se darão conta quando o sangue já estiver seco. A culpa não será do futebol. Será de vocês.”
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