O presidente Fernando Schmidt concedeu uma entrevista especial ao jornalista Daniel Dórea, do jornal A Tarde. No documento, que foi publicado na edição desta quinta-feira do periódico, Schmidt conta que encontrou o clube em péssimo estado e que pretende reunir todo o material encontrado pela auditoria para entrar com uma ação indenizatória contra Marcelo Guimarães Filho, ex-presidente que foi colocado para fora do clube pela Justiça em 9 de julho de 2013.
No cargo desde 9 de setembro, cerca de um mês e sete dias, Fernando Schmidt fala sobre o patrocínio da Caixa, declara que pretende alcançar o número de 25 mil sócios até o fim deste ano, diz que pretende demitir os jogadores que n ão fazem nada após conversa com o técnico Cristóvão e assume que uma possível queda para a Série B complicaria o planejamento.
Leia:
Nesta quarta, você se reuniu com a Caixa e participou de audiência na câmara dos deputados. O que esses encontros trouxeram de novidades relacionadas ao Bahia?
O refinanciamento das dívidas dos clubes foi tratado pela primeira vez de maneira responsável na Câmara. Agora, os dirigentes passarão a ter responsabilidades concretas junto à gestão e serão responsabilizados por qualquer gestão temerária que tenha sido feita. E isso tem tudo a ver com o que vem sendo feito agora dentro do Bahia, com espírito profissional, transparência como regra e um Conselho atuante. Quanto à reunião com a Caixa, apresentamos um projeto bem mais amplo do que o mostrado pela gestão anterior, e o que temos de fazer agora é correr atrás das certidões negativas para fechar o patrocínio.
Está difícil conseguir?
Não. Com esse novo projeto de renegociação das dívidas dos clubes, é possível que tudo seja resolvido até antes do final do ano.
Os valores do patrocínio já podem ser divulgados?
O pedido do Bahia é que esse valor alcance os R$ 9 milhões anuais, mas nada ainda está definido. Estamos levando uma cesta de produtos à Caixa para que se permita uma valorização maior do clube. Também formaremos um time feminino, patrocinado pela Caixa, que trará atletas americanas para disputar o Baianão, em janeiro.
Desde a intervenção que os comentários dos sucessores da `Era Marcelo Guimarães Filho` se repetem. São sempre sobre a condição econômica lastimável do Bahia.
Eu encontrei terra arrasada no clube. Por exemplo, ontem me avisaram que houve uma audiência com dois jogadores da base (os irmãos Diego e Diogo) que estavam peticionando ter passe livre em função de débitos do clube. Eu perguntei: `Por que não foram pagos?`. E me responderam que o antigo presidente os tinha pagado com cheque sem fundo. É essa coisa louca que encontramos no Bahia. O clube iria perder os jogadores, assim como outros já foram perdidos. Porém, conseguimos entrar em acordo, assim como aconteceu com o promissor atacante Ítalo Melo, também da base, por exemplo.
Quais atitudes a sua administração irá tomar com relação a esses fatos que aconteceram na gestão anterior?
Nós vamos acionar o ex-presidente na Justiça para que ele devolva tudo que trouxe de prejuízo ao clube por conta de sua gestão temerária.
Isso é certo? Marcelo Guimarães Filho será processado pelo Esporte Clube Bahia?
Sim. E, em relação à questão do cheque sem fundo, ele já está sendo processado.
O material colhido na auditoria contratada pela intervenção será utilizado para embasar esse processo?
Com certeza. Se não fosse essa auditoria, não saberíamos da missa metade que aconteceu na gestão passada.
E será feita uma auditoria retroativa para descobrir mais irregularidades que tenham acontecido em administrações anteriores?
Isso ainda não está sendo feito, pois a auditoria pedida pela intervenção ainda precisa ser completa. O que temos até agora é um relatório parcial. E esse material já foi entregue ao ministério público para que o órgão aja da maneira devida. O objetivo da nossa gestão não é administrar olhando para o passado, mas é preciso limpar a sujeira do clube. Dentro do Bahia, planejamento era palavrão, pois o clube era inimigo da transparência e da fiscalização.
Como sua gestão fará para recuperar o Bahia neste aspecto financeiro?
Estamos trabalhando para ter 25 mil sócios até o final deste ano. Antes, a arrecadação por meio dos associados era zero. Atingindo a nossa meta, chegaremos a R$ 1 milhão por mês. Atualmente, temos 14 mil sócios, mas nem todos estão em dia. Mensalmente, o clube gasta entre R$ 5 a 6 milhões, contando folha salarial de elenco, comissão técnica e funcionários, além de outras despesas. Só com o patrocínio da Caixa e o contrato com a Arena Fonte Nova, esperamos ter um ganho mensal de R$ 4 milhões. Com mais R$ 1 milhão dos sócios e os R$ 30 milhões da TV, conseguiremos investir no time.
E o ano de 2014 já está sendo planejado?
Sim. Pretendemos renovar com atletas de acordo com o planejamento que o técnico Cristóvão está fazendo. Ele está nos passando a lista de jogadores que ele quer e os que ele não quer trabalhar, além de alternativas no mercado para buscarmos. Tudo dentro dos nossos limites. Deveremos também reduzir a folha do elenco, já que afastaremos jogadores que não estão fazendo nada. Conto cinco atletas ao custo total de R$ 500 mil mensais.
O gestor Anderson Barros tem participado disso? O Bahia já decidiu se ele fica para 2014?
Ele participa, sim, acompanhado por Valton Pessoa (vice-presidente) e Sidônio Palmeira (assessor especial). Sobre a continuidade de Barros, não estamos pensando nisso, apenas na permanência do clube na Primeira Divisão. Se cairmos para a Série B, as coisas ficarão mais difíceis.
Mas vocês não conseguiram reforçar o time nesta reta final.
Não tivemos tempo hábil e, na situação embolada do campeonato, ninguém quis liberar jogadores para concorrentes. Além disso, não tínhamos dinheiro nem um banco de dados com análise de performance. Tivemos que trabalhar no escuro.
E o Dade (Departamento de Análise e Desempenho, criado por Paulo Angioni, gestor que antecedeu Barros)?
Nem sabia da existência desse departamento.
Quando o Bahia irá para o novo CT, em Dias D`Ávila?
Temos até o fim do ano para resolver o que fazer sobre isso. Há uma dúvida sobre o contrato da transação, no qual o Bahia teria passado de permutante a devedor. Estamos analisando para saber que atitude tomar.
Isso quer dizer o Bahia pode não ir para o novo CT?
O CT foi entregue, mas a antiga gestão não recebeu. Toda a logística que teríamos de fazer para a mudança custaria R$ 6 milhões. Além desse problema, queremos rever o contrato para conseguir algo melhor para o Bahia.
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