Após receber o apoio de jornalistas reconhecidos nacionalmente, entre eles Juca Kfouri, representante da classe que sempre lutou pela moralização do futebol brasileiro, nesta quinta-feira (13) foi a vez do portal UOL repercutir a divulgação da já famosa lista do jabá.
A matéria assinada por Guilherme Costa, de São Paulo, destaca a dívida do clube (cerca de R$ 80 milhões) e o que representa neste montante os pagamentos realizados às empresas e cronistas esportivos, além dos gastos com passagens aéreas, hospedagens e as torcidas organizadas. Confira na íntegra:
“O Bahia abriu uma caixa preta na noite da última segunda-feira. Em reunião do conselho deliberativo, a diretoria tricolor apresentou documentos que detalham gastos do clube com jantares, bebidas alcoólicas e até parcerias com veículos de imprensa. Os números foram aferidos por auditoria e mostram registros de práticas perdulárias ao menos desde 2006. Esses valores podem corresponder a até 5% do total da dívida da equipe.
Segundo estimativa da atual diretoria, o total devido pelo Bahia está na casa dos R$ 80 milhões. E em projeção, os gastos excessivos apresentados ao conselho consumiram cerca de R$ 4 milhões entre 2006 e 2012.
Até aqui, a diretoria do Bahia conseguiu comprovar quase R$ 900 mil de gastos excessivos apenas entre 2011 e 2012 (média de R$ 450 mil por ano). Como há documentos que mostram essas práticas desde 2006, é possível fazer uma estimativa de R$ 3,1 milhões. A esse valor, somam-se ainda as benesses dadas pelo clube a torcidas organizadas, que também foram cortadas recentemente.
O valor tem de ser estimado em projeção porque a própria diretoria do Bahia ainda não tem certeza sobre o montante total destinado a esses fins. A auditoria encontrou problemas, por exemplo, com o sistema de arquivo usado pelo clube.
Toda essa discussão surgiu em fevereiro deste ano, em participação de Sidônio Palmeira, assessor especial da presidência do Bahia, em um programa da “Rádio Metrópole”. O time tricolor havia sido eliminado na primeira fase da Copa do Nordeste e fazia um início claudicante no Estadual. Questionado sobre as críticas, o dirigente respondeu com uma acusação: “A diretoria está sofrendo algumas críticas exageradas, e temos de aceitar, mas não vamos aceitar críticas de pessoas que têm interesses. Algumas pessoas da imprensa recebiam dinheiro para falar bem do clube, mas nós cortamos todos. Essa diretoria acabou com o jabá”.
A declaração de Palmeira gerou reação da ABCD (Associação Baiana de Cronistas Desportivos). No dia seguinte, a entidade emitiu nota oficial contestando o que foi dito pelo assessor especial da presidência do Bahia. “Trata-se de uma ofensa lançada à toda a classe de radialistas e jornalistas do Estado da Bahia, INDISCRIMIDAMENTE, maculando a honra, o nome e a imagem de milhares de pais de família”, ponderou o texto assinado por Márcio Martins, presidente da instituição.
No dia 12 de fevereiro, o Bahia fez uma tréplica. Em nota oficial publicada no site do clube, a diretoria reafirmou o que havia sido dito por Sidônio Palmeira e prometeu apresentar uma lista de pessoas beneficiadas.
Parte do material foi mostrada aos conselheiros na segunda-feira. Foram três horas de assembleia, e a diretoria apresentou casos como um jornalista que recebeu R$ 45 mil e uma rádio agraciada com R$ 24 mil do clube.
Curiosamente, uma das empresas que receberam dinheiro do Bahia foi a Sportgol Assessoria e Marketing Ltda., que tem como sócio o próprio Márcio Martins, presidente da ABCD. Em dezenas de notas, a companhia levou mais de R$ 200 mil do time tricolor.
Em entrevista à rádio “Tudo FM”, Martins admitiu ser um dos sócios da Sportgol. Contudo, disse que está afastado e que tem se dedicado a duas profissões além de setorista da rádio “Itapoan FM”, o jornalista atua como advogado. Ele ameaçou processar a atual diretoria do Bahia.
“Sinceramente, não vejo o porquê de isso acontecer. Não divulgamos nenhuma inverdade. Não focamos na imprensa, mas em informações referentes a gastos do clube. Tudo que foi divulgado representa notas fiscais, recibos, coisas assinadas por pessoas responsáveis”, afirmou Vitor Ferraz, gerente jurídico do Bahia.
Outra rádio citada no dossiê do Bahia, a “Excelsior FM” confirmou ter recebido do clube em passagens aéreas. Foram “dez ou 15 bilhetes” por ano, pagos por espaço publicitário no programa “Os campeões da bola”.
“É uma relação de serviço. O Bahia queria anunciar um programa de sócio-torcedor e buscou o nosso programa como mídia. É como o governo procurar o seu veículo para divulgar uma campanha de vacinação. Você não vai falar bem ou mal do governo por causa disso. A Globo também tem anunciantes que são patrocinadores da Copa”, explicou Mário Freitas, diretor de esporte da “Excelsior FM”.
A relação com jornalistas, porém, é apenas um dos aspectos levantados pela diretoria do Bahia. A auditoria começou quando Claudio Rátis foi nomeado interventor do clube, em 2013, depois de o presidente Marcelo Guimarães Filho ter sido deposto.
O levantamento também encontrou gastos com jantares, bebida alcoólica e viagens. E até a hospedagem de Guimarães Filho e de uma apresentadora de TV em um hotel.
Na última quarta-feira, Guimarães Filho foi questionado sobre o fato. Em entrevista ao “Correio da Bahia”, respondeu com críticas ao atual presidente do clube, Fernando Schmidt: “Eu durmo com mulheres e tenho vários amigos homossexuais. Não tenho nada contra. Como o presidente de fato é o Sidônio [Palmeira], o presidente de direito precisa assumir o Bahia e assumir que é homossexual”.
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