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Em entrevista, Schmidt fala sobre Jabaleaks

Notícia
Historico
Publicada em 14 de março de 2014 às 12:19 por Da Redação

Renomado jornalista no cenário brasileiro e editor do portal Terra Magazine, o jornalista Bob Fernandes, ex-redator-chefe da CartaCapital e com passagens pelas reconhecidas revistas IstoÉ e Veja, publicou uma longa entrevista realizada nesta sexta-feira com o presidente Fernando Schmidt.

Como não poderia deixar de ser, o assunto principal do bate-papo foi a divulgação do escândalo conhecido como “Lista do Jabá”. Leia os comentários de Bob e toda a conversa com Schmidt:

“Às vésperas do término oficial do verão, tempo quente na Bahia. Mais precisamente, no Esporte Clube Bahia. Devassa nas contas da gestão anterior. E o Bahia expôs, publicamente, relações comerciais do clube com setores da crônica esportiva local durante a turbulenta presidência de Marcelo Guimarães Filho – 2009 a 2013.

A investigação inicial foi consequência da intervenção decretada pela Justiça em 2013, ação esta acompanhada pelo ministério público federal e estadual. Já a divulgação de uma lista com 21 radialistas que teriam sido beneficiados, em gastos com “marketing” e despesas várias, se deu, segundo o atual presidente do Bahia, Fernando Schmidt, porque assim determinam “o Estatuto do Bahia, a lei de acesso à informação e a Constituição”.

Nessa conversa com Terra Magazine, Schmidt fala sobre os “absurdos” na relação entre o ex-presidente do Bahia, Marcelo Guimarães Filho, e porções da crônica esportiva local. E expõe exemplos dos “absurdos”:

– Um dos gastos, pagos pelo Bahia, é com a “transmissão de jogos”…ora, me poupem! É função do Bahia pagar pela “transmissão de jogos”?

-…. passagens aéreas, hospedagens, despesas como, por exemplo, R$ 16 mil num único jantar com amigos numa churrascaria…

Provocado, Schmidt aborda também grandes questões do futebol brasileiro.

Ao ser eleito, em setembro, Schmidt conversou com Terra Magazine. Disse então que tentaria renegociar direitos do Bahia com a Tv Globo. Indagado a respeito, seis meses depois, o presidente do Bahia resume:

– Hoje, no futebol brasileiro, o que há é uma bagunça, vários atores mexendo nisso e em tudo ao mesmo tempo, e não há confluência para um mesmo objetivo. A Globo mexe, a CBF mexe, as federações, o Bom Senso, o ministério mexe, as arenas…uma bagunça…

Abaixo, a entrevista completa do dirigente do Bahia:

O que levou o Esporte Clube Bahia a abrir suas contas, como fez essa semana, e exibir gastos de R$ 865 mil com comunicação, com crônica esportiva, radialistas? Gastos das gestões de Marcelo Guimarães Filho…e por que agora?

Na verdade, essa e a consequência do seguimento de uma ação. Quem pediu uma auditoria no Bahia foi o juiz que decretou a intervenção no ano passado, juiz Paulo Albiani. A auditoria foi feita, houve uma complementação a ela, pedida pelo próprio clube, e aquela auditoria inicial descobriu irregularidades graves: crimes contra o sistema financeiro nacional, apropriação indébita, por ai afora…

E qual a consequência disso?

..há investigações no âmbito do ministério Público, o federal e o estadual, e um ou outro, ou ambos, poderão, deverão oferecer denúncia…

Como e porque se chegou à cidadela da comunicação, da Mídia, ao jornalismo esportivo?

Nas investigações. E se concluiu que foram gastos R$ 865 mil. Isso em passagens aéreas, hospedagens, despesas…despesas como, por exemplo, R$ 16 mil num único jantar com amigos numa churrascaria. Há despesas com gente de empresas de comunicação, mas não apenas: também há aluguel de automóvel com parente, tem os amigos etc. Em relação a radialistas, ao jornalismo esportivo propriamente, há absurdos…

Por exemplo…

…por exemplo, contratos com empresas a título de divulgação da marca do Bahia, para ações de marketing… que marketing, que divulgação de marca? Há seis meses, quando houve a intervenção, o Bahia tinha 600 sócios enquanto hoje já tem 23 mil….aquilo não era marketing, não era divulgação, era outra coisa…

É algo que, aí na Bahia, se chama “comer na mão do dono”?

É isso. Ora, me poupem! Isso é diferente de anúncio, nada tem a ver com se fazer publicidade. Fazemos e faremos campanhas publicitárias nos meios de comunicação, campanha por mais sócios, o que for, mas não isso, dessa forma. Isso não é marketing nem divulgação de marca…

Quantos são citados nessa investigação?

… 21 radialistas, e há as despesas com terceiros, nas viagens, hospedagens, gastos altíssimos em restaurantes …e o absurdo dos absurdos…

Qual seria?

Um dos gastos, pagos pelo Bahia, é com a “transmissão de jogos”… ora, novamente me poupem! É função do Bahia pagar pela “transmissão de jogos”?

Schmidt, há algo nisso que realmente te surpreenda? Mesmo sem detalhes, sem comprovações, essas histórias sempre correram o meio na Bahia…e não apenas na Bahia…

Surpresa não seria, de fato, a palavra. Afinal, a Carta de Pero Vaz de Caminha já pedia a El Rey D. Manuel por favores, empregos e benesses…me lembro de uma história, me foi contada por um radialista, história sobre ele e o ex-presidente do Bahia, Alfredo Saad…

Conte-nos essa história…

O Saad combinou com o radialista pagar, do bolso dele e não do clube, um espaço no programa no rádio. Disse que nem precisaria falar no nome dele, Saad, era só pra “promover o Bahia”; assim como fizeram nestes anos. Bem, o programa foi ao ar e, ao final, o radialista perguntou: “E ai, presidente, gostou?”. O Saad respondeu: “Não”. “Mas por que não, presidente?”, perguntou o radialista, e o Saad encerrou a conversa: “Porque em 15 minutos você só falou 11 vezes o meu nome”.

Bem…voltemos à pergunta inicial: por que a decisão de divulgar os gastos com a crônica esportiva e por que agora?

A decisão não é nossa, ela se impõe por motivos incontornáveis. São eles, e não pela ordem: o estatuto do clube; nós, a nossa gestão, estamos sob auditoria permanente e assim será sempre, é estatutário; a lei de acesso à informação, qualquer cidadão pode requerer as informações, e a própria Constituição…

Sim, mas em algum momento isso vazou…

Não vazou, foi apresentado ao Conselho do clube, como determina o estatuto, e depois os sócios tiveram acesso, outra determinação estatutária. Simples assim, transparente como deve ser…

Nessas situações sempre há o risco de se cometer erros, e houve erro…

Não diria erro, aconteceram interpretações de outros em relação ao material exposto. Teve quem tenha dito que uma jornalista teria tido despesas pagas, despesas de várias viagens, hospedagens, mas foram despesas pagas pelo presidente do clube e não por ela, e ele, em outras viagens, levou amigos, outras pessoas…

Aliás, após a divulgação dessa lista de gastos o ex-presidente Marcelo Guimarães Filho, a propósito de buscar atacá-lo, e sendo isso para ele uma agressão, disse que ele, Marcelo, “dorme com mulheres” enquanto “o presidente”, portanto você, “deveria assumir que é homossexual”…

Esse é o caráter dele. Em meio à intervenção ele chegou a se dirigir, de maneira semelhante, a Fátima Mendonça, mulher do governador Jaques Wagner… como dizia o ex-presidente do Bahia, Osório Villas-Boas, quando alguém sem argumentos quer responder a alguém e não tem o que dizer, apela logo para o de sempre: “É corno, é ladrão, é viado…”.

Nestes casos há quem retruque, apontando o que é realmente crime em meio a essa tríplice tentativa de desqualificação…

-…pois é…

… voltando aos gastos, quantos são os citados?

…os 21 radialistas, empresas, tem uma que aparece com destaque, também ela ligada a radialista…

Daqui a pouco, passado esse furor, a torcida vai querer saber de outro assunto: e o time? Como está o time do Bahia?

Sendo remontado, de forma absolutamente diferente do que era. Aqui chegavam caminhões e caminhões de jogadores, com contratos de dois, três anos, sem controle algum de nada. Mudamos isso. Antes de mais nada contratamos um diretor de futebol, William Machado, que foi capitão do Corinthians, o técnico Marquinho Santos, que veio do Coritiba, e o processo é outro.

E qual seria?

O de reconstrução. Os jogadores têm clausula de produtividade nos contratos, têm metas para alcançar, não é jogador chegando aos montes, é privilegiar de verdade, cuidar das divisões de base como um investimento do clube… no ano passado escapamos da série B por quase nada, agora é hora da reconstrução…não há milagre…

E como está sua ideia inicial, a de procurar a Globo, o senhor Marcelo Campos Pinto, e renegociar o contrato do Bahia, que vai até 2015, se não me engano?

Está tudo parado.

Parado?

Tudo. Hoje, no futebol brasileiro, o que há é uma bagunça. Vários atores mexendo nisso e em tudo ao mesmo tempo, e não há confluência para um mesmo objetivo. A Globo mexe, a CBF mexe, as federações, o Bom Senso, os ministério, as arenas… uma bagunça, sem clareza de objetivo, pelo menos objetivos que interessem a todos, que façam o futebol brasileiro mudar…

Bagunça…ainda mais num ano de Copa do Mundo aqui…

Ainda mais num ano de Copa…tudo parado, quando, do ponto de vista esportivo, do futebol brasileiro, teríamos a chance de realmente deixar um “grande legado” …

E qual seria esse “grande legado”?

Além do hexa seria o lançamento de bases para uma estruturação, uma nova, moderna estruturação do futebol brasileiro. Em resumo, quase que começar tudo de novo. O Bahia, por exemplo, fez 8 jogos em 24 dias no início da temporada, depois de voltar das férias …assim, quem treina o quê? Isso em relação ao calendário, e tem o fair play financeiro, os dirigentes, federações… não é mais possível dirigentes se eternizando, em lugar nenhum, nem em clube nem em federação e, ao final, sempre a mesma coisa…

Que seria?

O governo refinanciando, mudando o perfil da dívida, ao final, sempre o governo, o cidadão pagando a conta. Chega disso. Felizmente já tem mais gente, mais dirigente pensando assim.”

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