Clube cobra R$1 mi e todos os gastos a “Pipi”

De Thiago Pereira, para o globoesporte.com:

“No início, a história caminhava para um final feliz. Ídolo do San Lorenzo, o meia argentino Leandro Romagnoli assinou um pré-contrato com o Bahia para defender o Tricolor a partir de julho deste ano. No entanto, no meio do caminho, a história ganhou outros contornos e se tornou uma amarga disputa. O jogador não se apresentou no Fazendão no prazo estipulado pelo contrato assinado, e o clube baiano acionou a Fifa para não sair no prejuízo no negócio que era dos sonhos, mas, no fim, virou o princípio de um pesadelo.

– Fizemos um pré-contrato com todos os requisitos da Fifa, dentro do prazo estipulado pelo regulamento e que determinava que o Romagnoli deveria se apresentar em Salvador no dia 1º de julho deste ano. Não tinha nenhum condicionamento sobre a prorrogação do vínculo com o San Lorenzo por conta da Libertadores. Simplesmente dizia que ele deveria se apresentar na data estipulada. Ele não se apresentou e não nos deu satisfação. Quando percebemos que ele não vinha, notificamos o atleta e o San Lorenzo informando que ele tinha um pré-contrato com o Bahia e que iríamos adotar as medidas legais. Ontem [segunda-feira] recebemos a resposta de ambos de que ele está buscando uma prorrogação do contrato com o San Lorenzo. Nada disso é objeto de negociação. Estamos ingressando com uma ação na Fifa. Temos um advogado especializado em trâmites com a Fifa. Ele já está com toda documentação. Ele [Romagnoli] pode ficar suspenso das atividades e sofrer outras penalidades, como reembolsar o que foi gasto pelo clube e pagar a multa prevista no contrato – revelou Vitor Ferraz, diretor jurídico do Bahia em conversa com o GloboEsporte.com.

Romagnoli assinou o pré-contrato com o Bahia no início desta temporada e recebeu um adiantamento de U$ 50 mil em dinheiro do clube baiano na ocasião. Devido ao não cumprimento do contrato, segundo Vitor Ferraz, além de multa, Romagnoli pode ser condenado a pagar todas as despesas que o Bahia teve com a negociação.

– A multa pelo descumprimento do contrato é de R$ 1 milhão. Ele também deverá ter que nos pagar o que foi gasto, como o pagamento da quantia que demos a ele, honorários de advogados, deslocamento para a Argentina. Todas as despesas. Todos os procedimentos que envolveram a negociação – afirmou o diretor do departamento jurídico.

O advogado Eduardo Carlezzo, que ingressou com a ação nesta terça-feira, revela que o Bahia ainda vai solicitar a suspensão do jogador e sanções ao San Lorenzo.

– Ingressamos na Fifa cobrando tais valores do atleta e do clube argentino, bem como solicitando que o atleta seja suspenso por quatro meses de suas atividades profissionais devido à quebra de contrato, e o clube proibido de contratar novos jogadores pelo prazo de duas janelas de transferência por induzir a esta quebra – afirmou o jurista.

A princípio, o Bahia acionará apenas a Fifa para tentar resolver o caso. Mas Vitor Ferraz não descarta ingressar com uma ação na justiça comum.

– Inicialmente vamos tentar só pela Fifa. Em um segundo momento, caso tenhamos dificuldades, vamos estudar a possibilidade de ingressar na justiça comum, até por ser um caso que envolve dois países. Inicialmente só pela Fifa – disse.

“O BAHIA NÃO VAI ACEITAR”, GARANTE DIRETOR

No Bahia, a contratação de Romagnoli deixou de ser um assunto ligado ao departamento de futebol e se transformou em um caso para o departamento jurídico resolver. Isso é o que garante o diretor de futebol do clube, Ocimar Bolicenho.

– Não é mais um assunto de futebol, é assunto jurídico. No pré-contrato que ele assinou, em nenhum momento foi colocado cláusula que permitia prorrogação no contrato dele com o San Lorenzo. Ao encerrar o contrato dele lá, no dia 30 de junho, ele se apresentava aqui, no dia 1º de julho. Estamos no dia 22 de julho. Desde o dia 3 de julho, automaticamente não contamos mais com ele. Estamos notificando ele. Não é mais assunto do futebol, e sim jurídico. Ele está tentando fazer isso para se livrar das sanções jurídicas. Não existia menção a prorrogação de contrato com o San Lorenzo. O contrato é explícito. Tudo que está vindo agora é novidade, e o Bahia não vai aceitar. Dia 13 de agosto é a final da janela de transações internacionais. Se ele vai até a final da Libertadores, não pode se apresentar porque a janela fechou. O Bahia está dentro do que está escrito no contrato, dentro da lei. Ele informou que o contrato vencia 30 de junho, não mencionou que poderia haver a prorrogação. Tudo isso é novo. Óbvio que se fosse esclarecido no início, o Bahia nem tentaria contratá-lo – afirmou Bolicenho em conversa com o GloboEsporte.com.

O dirigente também avaliou as entrevistas que Romagnoli deu na Argentina garantindo que viria para o Bahia após a Libertadores. Para o diretor de futebol tricolor, o jogador está tentando reverter o quadro negativo que criou ao não cumprir o pré-contrato.

– Viajamos para a Argentina duas vezes por ele. No dia 1º de maio, viajamos para programar a vinda dele. Chegamos a marcar para ele vir, fazer uma apresentação dele aqui e para ele se juntar ao grupo, fazer a intertemporada. Não teria problema com o San Lorenzo. Ele fez questão que nosso médico fosse em Buenos Aires. Ainda tentamos fazer os exames em Minas Gerais quando ele jogou contra o Cruzeiro pela Libertadores, mas ele pediu para não misturar as coisas. Aceitamos. Depois que já haviam sido feito os exames, ele disse que não queria vir mais. Que tinha problema com duas filhas. Ele está se fazendo de vítima – avaliou.

ARREPENDIMENTO

Em entrevista recente na Argentina, Romagnoli admitiu estar arrependido de ter assinado um pré-contrato com o Bahia. O jogador afirmou que a família pesou bastante na mudança de opinião e na decisão de permanecer no San Lorenzo para disputar a semifinal da Libertadores.

– Sim … Na época que eu assinei, eu pensei que era melhor. Mas à medida que os dias passavam, comecei a pensar e percebi que tenho muitas coisas aqui, como a minha família e o clube que me viu nascer. E lá eu tenho que ir sozinho, porque minhas meninas são grandes e eu não posso tirá-las da escola. Eu estava pensando sobre todas essas coisas que, a princípio, eu não coloquei na balança. Mas é isso. Eu sou um cara que guarda a sua palavra. Vou cumprir o contrato (…) Quando terminar a Libertadores, eu vou me apresentar ao Bahia. Eles vão decidir se me querem nesse momento ou não. Mas eu assinei um vínculo com eles e devo respeitá-lo – disse o jogador em entrevista publicada no jornal Clarín.

Na última segunda-feira, o empresário de Romagnoli, Shai Lerner, também confirmou que o jogador vai se apresentar no Fazendão. Em entrevista à Rádio CBN de Salvador, Lerner explicou o imbróglio sobre a transferência do atleta e o motivo que levou ao prolongamento de seu contrato com o San Lorenzo.

– Romagnoli tem assinado um pré-contrato com o Bahia, que todo mundo sabe. E, ao mesmo tempo, já vem jogando no San Lorenzo. Tem um contrato com o San Lorenzo também falando que ele tem uma renovação automática com o San Lorenzo se estiver em alguma competição da Federação Argentina como da Conmebol. No caso, a Copa Libertadores é uma competição da Conmebol, que o San Lorenzo está competindo neste momento. Por causa da Copa do Mundo, a Libertadores teve essa prorrogação e, com isso, automaticamente, ele teve uma prorrogação do contrato com o San Lorenzo – afirmou.

O empresário não determinou uma data para o desembarque do atleta, mas confirmou que ele pode ser anunciado como reforço tricolor após a Libertadores.

– No caso, ele estaria chegando ao Bahia ao terminar o contrato com o San Lorenzo, que seria no último jogo dele na Taça Libertadores. A gente ainda não tem uma data fixa, já que hoje temos uma semifinal. E o segundo jogo é dia 30. Passando a semifinal, ele teria uma final no dia 13 de agosto. Então hoje ainda não temos uma data fixa. Mas a situação concreta é que ele está chegando ao Bahia cumprindo seu compromisso – disse Lerner à Rádio CBN.

Segundo o empresário, não foi discutida a possibilidade de pagamento de multa pelo San Lorenzo ao Bahia para manter o jogador na Argentina. Lerner tratou de negar a versão de que haveria uma negociação para evitar que Romagnoli fosse transferido e atribuiu a demora de anúncio oficial à cláusula de prorrogação de contrato com a equipe argentina.

– Essa possibilidade nunca esteve na conversa, nem com o San Lorenzo nem com o Bahia. O San Lorenzo só pediu para que o jogador esperasse acabar a Taça Libertadores, cumprisse o contrato dele, que tem essa cláusula e prorrogação. E depois daí ele já está liberado para jogar no Bahia. Mas nunca se falou na possibilidade de o San Lorenzo pagar a multa.

Lerner ainda elogiou a conduta do Bahia durante a negociação com o meia argentino e deixou a numeração da camisa de Romagnoli a cargo do clube tricolor.

– O Bahia chegou com uma proposta muito firme e muito interessante também. Ele é profissional e tem que ouvir as propostas, pensar nas questões profissionais. Ele está muito confortável no San Lorenzo. O Bahia veio com uma proposta interessante, revolucionária, com o assunto da democracia. O Bahia também fez um trabalho de convencimento, de mostrar a torcida, o quanto ele seria bem recebido. Não é fácil. Muitos não acreditavam que este jogador poderia ir jogar lá, mas, com muito trabalho… Fomos criando todas as questões que envolvem uma contratação deste tipo para que ele se sinta bem, com vontade de ir lá e ter um nível a mais na carreira dele. E fazer uma história também no Bahia. O número da camisa é o Bahia que precisa decidir. Mas, se não for a camisa 10, garanto que ele vai vestir o uniforme com muito orgulho – garantiu.”

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