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Publicada em 22 de março de 2024 às 17:31 por Carlos Patrocínio

Carlos Patrocínio

Vamos falar um pouco sobre o trabalho de Rogerio Ceni?

 

 

No dia 09/09/2023 o Bahia contratou Rogério Ceni para ser seu treinador. Vou tentar trazer um pouco dos números do treinador à frente do Bahia e a minha irrelevante análise pessoal sobre o como enxergo seu trabalho até aqui.

 

Vamos aos números…

Quando Rogério assumiu, o Bahia acabara de empatar com o Vasco, em casa, pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro e ocupava a 16ª posição da competição, com 22 pontos em 22 jogos e apenas 5 triunfos.

Como já sabemos, Rogério, assim que assumiu, teve que trazer alguma organização defensiva e tática, além de caráter competitivo a um time que era uma verdadeira zona (tinha a 5ª pior defesa da competição) e estava apenas 1 ponto acima da zona de rebaixamento.

Naquela competição foram 16 jogos, com 7 triunfos, 1 empate e 8 derrotas, com 27 gols pró e 24 gols sofridos, num aproveitamento de aproximadamente 46%. Para efeito de comparação, se o Bahia tivesse este aproveitamento na 22ª rodada, ocuparia a 10ª posição da competição. Se o aproveitamento se estendesse por toda a competição, o Bahia terminaria na 11ª colocação, sem maiores sustos, o que estaria ok para um ano de volta à Série A.

Ali, naquele primeiro momento, o desafio era tornar o time competitivo e, penso eu, isso aconteceu. O aproveitamento subiu bastante e o objetivo possível foi cumprido, com a fundamental permanência na Série A. Naqueles 16 jogos o time jogou, penso eu, o futebol possível. Competiu e até teve momentos memoráveis, como os jogos contra Goiás, Corinthians e Atlético Mineiro.

Ceni deixou claro que a busca por um modelo de jogo mais adequado às expectativas do City Football Group se daria na temporada de 2024 e, para isso, fez uma verdadeira imersão nos times do CFG durante suas férias. Visitou Girona, Palermo e Manchester, trocando ideias e informações com as equipes do Grupo, conhecendo suas estruturas e tudo o mais. Isso, pra mim, fala muito sobre como o treinador está envolvido com o projeto que tem em mãos.

E o ano começa com pré-temporada em Manchester, fazendo, inclusive, que uma mescla entre o sub20 e alguns jogadores menos aproveitados do time principal fizessem as duas primeiras partidas do Baiano.

Desde a volta do time principal ao Brasil, o time principal fez 17 jogos em 58 dias, iniciando com a goleada por 5×0 contra o Jacobina em 24/01/2024 e triunfando sobre o Fatal da Bahia por 2×1 em 21/03/2024. Neste período o Bahia sempre fez 2 jogos por semana, com uma média de 1 jogo a cada 3,4 dias. Ou seja, praticamente só jogou e pouco treinou. Foram inúmeras viagens, envolvendo Teresina, São Luis, Fortaleza, Maceió, Juazeiro, Jequié, Caxias do Sul, o que trouxe uma logística bastante desafiadora. Foram 15 triunfos, 2 derrotas, com ótimos 41 gols a favor e apenas 13 gols sofridos.

 

A implantação de um novo modelo de jogo e a gestão do elenco

Mesmo com todas as dificuldades logísticas e de preparação tática que o nosso absurdo calendário impõe, acho inegável que há um grande esforço de RC em implementar uma nova forma de jogar.

Hoje é muito claro que o Bahia busca um jogo propositivo, baseado na posse, ofensivo, com muito perde-pressiona e com os jogadores buscando associações e tabelas para romper as defesas inimigas. Penso também ser inegável que a implantação deste modelo de jogo é complexa e leva muito mais tempo para ser eficaz do que modelos mais rudimentares, que fundam seus jogos em postar as linhas baixas atrás da linha da bola, com saídas rápidas em contra-ataques. Inclusive, essa costuma ser a fórmula comumente utilizada por nossos treinadores pelo pais a fora. No Bahia pré-CFG isso não era diferente.

Hoje, pelo menos, há um esforço para mudar isso. Já temos mais qualidade no meio de campo. Vieram contratações que qualificaram a equipe, como Cuesta, Arias, Caio Alexandre, Jean Lucas e Everton Ribeiro. No meio do ano chegará um lateral esquerdo bastante qualificado, também. Em comparação com o elenco de 2023, já podemos ver mais qualidade, ainda que haja carências de qualidade em algumas posições, como no miolo da zaga e no ataque. Vejam que falo em carência de qualidade, não de quantidade, porque, em quantidade, como já escrevi antes aqui, acho que o elenco é suficiente.

O Bahia teve ótimos jogos no Baiano, onde o nível técnico é bastante inferior. Apesar de algumas dificuldades contra adversários um pouco mais competitivos, como as equipes de Série B que enfrentou pelo Nordestão, foi possível ver ótimos momentos na equipe. Gostei muito da atuação contra o Sport e do primeiro tempo contra o Ceará. Também achei excelente o primeiro tempo que o Bahia fez contra o Caxias, pela Copa do Brasil.

É bem verdade que tivemos dificuldades nos dois clássicos, mas, ao menos no segundo jogo, gostei do esforço da equipe em buscar o resultado, no primeiro tempo, dentro de suas características, com um futebol de associação, de posse. Gostei da atuação da equipe nos BA-Vis? Não. Mas, ao menos no 2º jogo, penso que o Bahia ao menos entendeu o jogo que estava disputando e atuou com o espírito correto.

Outro ponto que acho louvável, além da implementação deste novo modelo de jogo, é a gestão do elenco. Salvo engano, não há um único jogador à disposição do elenco principal que não tenha entrado em campo. Isso se reflete numa fala que é recorrente nas coletivas de RC: o Bahia não perdeu jogadores por questões musculares.

De um modo geral, acho que o trabalho do treinador é muito bom, o que não impede tratar alguns pontos de atenção e algumas das principais críticas da nossa torcida sobre RC.

 

Pontos de atenção: teimosia ou convicção?

É notório que RC é um cara muito ligado às suas convicções. Alguns podem chamar de teimosia, o que, como um cara teimoso, posso concordar. Por ser convicto ou teimoso, cabendo a cada um usar o termo que ache mais pertinente, podemos ver que RC insiste na utilização de alguns jogadores, inclusive fora de suas posições mais usuais.

Vimos a utilização de Juba na lateral esquerda desde a reta final do Brasileirão/2023, a assim como utilização de Rezende e de Cicinho nesta mesma posição nesta temporada de 2024. Além disso, vimos Thaciano ser escalado numa posição meio híbrida, de falso-nove ou falso-ponta, como queiram, já que o polivalente atleta costuma ser um verdadeiro centroavante na fase ofensiva, mas um jogador de beirada na fase defensiva, ajudando a fechar os lados durante a recomposição (já fez isso pela direita e pela esquerda). Na temporada de 2024 passamos a ver isso acontecer com Everaldo, que vem sendo usado como uma espécie de falso-ponta pela direita. Outras duas insistências que chamaram a atenção não envolvem troca de posições, mas o aproveitamento contínuo de jogadores criticados, como Kanu e Yago Felipe.

Vejo aspectos positivos e negativos nestas convicções ou teimosias de Rogério. Começando pelo final, consigo entender um pouco a insistência em utilizar atletas criticados pela torcida. Penso que é uma forma de tentar prestigiar o grupo, que, diga-se, é algo que criticavam em RC em trabalhos passados. Aqui é importante ter um cuidado para a convicção não virar teimosia. É bastante claro que RC tem ao menos alguma convicção que jogadores como Cicinho, Kanu e Yago podem render. E parece bastante claro que, ao menos com Yago e Cicinho, isso funcionou. Ambos evoluíram muito nesta temporada, ajudando na rotação do elenco com boas atuações neste primeiro trimestre.

Kanu, penso eu, merece um capítulo a parte. Uma coisa pra mim é certa: Kanu não é ruim como parte das críticas tentam fazer crer. Acho que é um zagueiro ok para se ter no elenco de um time de Série A, mas não para ser titular absoluto. Ele tem alguns problemas de concentração que podem trazer problemas quando utilizado no time titular com grande frequência, mas acho que pode ser um zagueiro reserva, para suprir ausências por suspensão e lesões pontuais.

Dito isto, até acho que, aqui, RC correu e talvez ainda corra algum risco em insistir com ele. Mas consigo entender e, pelos jogos contra Caxias e no último clássico, pode ser que ele esteja conseguindo recuperar o atleta. Ainda assim, visando qualificar o elenco, acho que é uma posição que precisamos de um titular incontestável, então caberia uma contratação aí.

Uma insistência que tem me deixado com uma pulga atrás da orelha é a de não apenas usar Everaldo, mas principalmente da forma que ele tem sido usado, espelhando Thaciano do lado oposto do campo, comumente pela direita. Pela minha leitura, RC tem usado Cauly como um verdadeiro falso nove, ficando solto nas fases ofensiva e defensiva e sem necessidade de voltar para marcar. Para isso, vem escalando Thaciano e Everaldo para fechar os lados quando o adversário tem a posse, e com os dois jogadores fazendo as diagonais quando o Bahia ataca, pisando na área.

Como mero curioso e que entende muito pouco de futebol, com certeza infinitamente menos do que RC, acho que isso funciona para Thaciano mas não funciona muito bem para Everaldo. Os números até aqui, contudo, podem me desmentir, já que, jogando assim, lembro que Everaldo deu assistência para Thaciano no primeiro clássico e no jogo contra o Caxias, além de ter marcado contra o Ceará.

Ainda assim, mesmo reconhecendo Everaldo como um cara esforçado, acho que as suas limitações técnicas e até físicas deveriam fazer Ceni repensar essa utilização. Ele não tem a velocidade e agilidade necessárias para recompor, ou a técnica e inteligência tática para ser efetivo no ataque. Ainda que ele tenha conseguido apresentar os lampejos que citei, com algumas assistências e gols, penso que, principalmente contra adversários mais fortes, poderemos ter problemas com essa utilização.

Me parece muito mais efetiva a utilização de caras como Biel, Juba, Ademir ou até mesmo Rafael Ratão. São caras que tem familiaridade em atuar pelas pontas, cada um com suas características.

 

Professor pardal?

Só não vou concordar nunca com a alcunha de Professor Pardal ou suas variáveis. Acho que essa busca por escalar jogadores em diversas posições para tentar extrair o melhor de suas características é uma qualidade, não um defeito.

Renato Paiva sofreu com essas críticas, mas até como já escrevi antes, este não era, pra mim, um problema no seu trabalho, que, de fato, foi muito ruim.

Inclusive, não consigo, nem de longe, comparar os trabalhos de ambos. Renato Paiva morreu abraçado com seus conceitos, tinha uma soberba imensa que se refletia até no tratamento com imprensa, jogadores e funcionários e parecia achar que estava fazendo um favor para o Esporte Clube Bahia estando aqui. No campo e bola, não foi capaz de levar pras 4 linhas seus conceitos e apresentou um time totalmente desequilibrado, sem capacidade de competir, que no primeiro trimestre não era capaz de ganhar de times de Série A ou B e que durante todo o trabalho era presa fácil pra quem quer que fosse fora de casa.

Desde o primeiro dia de Ceni, pudemos ver mudanças em todos estes aspectos. E não são só os números que mostram isso. Alguém lembra de um Bahia em campo com a atitude igual a que teve contra Vitória no último jogo? Eu não consigo lembrar, mesmo que o time tenha jogado mal.

Se trouxermos as comparações pros números, fica muito feio para o português. Claro que os momentos eram diferentes, mas só são diferentes hoje porque o trabalho de Ceni ajudou o Bahia a não cair.

Nesta temporada ganhamos do Vitória, que quer queira quer não, é um time de Série A, do CRB, do Sport e do Ceará, todos clubes de Série B. Nos classificamos antecipadamente como primeiros do grupo no Nordestão e já tínhamos nos classificado antecipadamente no Baiano. Apesar do susto de um jogo que dominou completamente na Copa do Brasil, estamos na 3ª fase. Enfim, tudo caminhando bem.

 

Perspectivas

Em resumo, acho o trabalho de bom para muito bom, com ótimas perspectivas. Temos um treinador envolvido com o projeto, que parece estar vivendo intensamente cada etapa do processo.

Temos um cara com uma grande história no futebol, como jogador, que teve um trabalho autoral no Fortaleza, que depois acabou oscilando, ainda que durante estas oscilações tenha conquistado um título brasileiro como treinador no Flamengo.

Além disso, é um treinador que parece buscar aprender o tempo todo, que tem comprometimento e busca incessantemente implementar um modelo de jogo moderno, ofensivo e propositivo. Que tem ambição.

Penso que o Bahia, apesar de ter que evoluir muito, como o próprio Rogério disse em entrevista recente, nos vejo num bom local, considerando que temos um time com 5 novos titulares com relação à temporada passada, que vem implementando um modelo de jogo ousado.

@c_patrocinio

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