é goleada tricolor na internet

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Coluna

Cássio Nascimento
Publicada em 22/07/2016 às 09h14

Em busca do elo perdido (Parte 3)

A história do tricolor baiano é mais do que conhecida pelo seu torcedor, a começar pelo slogan “nasceu para vencer”. Seu hino, uma síntese do que sempre marcou esse clube ao longo de sua trajetória: “Somos do povo o clamor. Ninguém nos vence em vibração”. Um clube popular, vibrante, no qual a força de sua torcida emana energias as quais empurram os jogadores dentro de campo em direção aos triunfos.

Contudo, no início da era profissional de futebol no Brasil, vivia-se, politicamente, um contexto político pautado pelo autoritarismo e obediência. Líderes eram cultuados, e ao cidadão cabia apenas aplaudir ou se revoltar. Faziam da autopropaganda um instrumento de largo alcance perante as massas, e o populismo, fosse de esquerda ou de direita, era o instrumento mais contundente visando o voto, o qual era, à época, literalmente de cabresto.

A Imprensa escrita e radiofônica, o Quarto Poder, ditava pensamentos entre os mais engajados que lhe podiam acessar, posto que fosse praticamente o único meio de comunicação existente. Informações poderiam ser manipuladas e superlativizadas conforme interesses próprios.

A Era Vargas, militarista, protofascista e populista, sucedeu a era das oligarquias agrárias. Depois do [literalmente] pequeno ditador, o país experimentou avanços significativos em infra-estrutura e atendimento aos direitos do cidadão, porém atrelou o Brasil à conjuntura econômica ianque de forma definitiva, quando mercados consumidores foram firmados e consolidados.

Para tirar Vargas do poder, outro golpe, desta vez capitaneado pela neo-oligarquia urbana, católica e militaresca. Após a sequência de retorno-suicídio do político são-borjense, dessa vez devidamente sufragado, uma nova ditadura militar-elitista-empresarial-religiosa tomou conta do país por vinte e um anos. Com a redemocratização, uma onda de cidadania tomou conta do Brasil, o que persiste até hoje, embora certos direitos do cidadão venham sido questionados pelos nossos engravatados da Esplanada. Hoje, é entendimento pacífico que o voto, a democracia, as escolhas do eleitorado-cidadão são consideradas a melhor forma – ou menos pior – de dirigir os rumos da nação. Nada impede que, amanhã, não soframos retrocessos ou mudanças de modelos e paradigmas. Enfim: esta é a pequena pseudo-aula de História que temos a contar, para que possamos estender nosso raciocínio ao que realmente interessa.

Nas eras Osoriana e Maracajiana, não havia que se falar em direitos nem em democracia, ainda mais num esporte ainda considerado “coisa de vagabundo”, para emular um acontecimento real ocorrido com o ex-ponta Arthur, craque dos anos 1970, devidamente aconselhado – em termos semelhantes – pelo seu pai a se retirar do meio futebolístico. Os dirigentes em questão, Osório Villas-Boas e Paulo Maracajá, respectivamente um operador da repressão e um operador do Direito, conheciam bem o sentimento do torcedor, quase sempre um cidadão que usava o futebol como válvula de escape, e sabiam extrair o maior e melhor possível dele, considerando os padrões da época. Enquanto o Brasil era internamente isolado pela logística territorial e pelos – então importantes – campeonatos estaduais, forjou-se uma hegemonia regional por parte do Bahia, a qual fora bem projetada na finada Taça Brasil de 1959/60, quando, contrariando as expectativas sudestinas, não obstante o elemento surpresa, conquistamos a primeira competição regular em nível nacional, e fomos os primeiros participantes da Libertadores, derrotando nada menos que o maior clube brasileiro à época e uma das bases da Seleção nacional.

Osório e Maracajá eram incontestáveis: dizia-se, em suas épocas, que se não fossem eles, o Bahia estaria perdido, e que nenhum outro poderia lhes substituir. Eram os líderes de uma massa que os colocava em pedestais intransponíveis. Osório, ex-comissário de polícia do Estado Novo varguista, sabia bem cultivar sua figura numa época em que tais práticas eram aceitas e consideradas normais, considerando o baixo nível de instrução e politização da população da época. O Bahia ganhava tudo, pra que reclamar? No entanto, no começo do atual regime militar, são conhecidas histórias de radialistas intimidados, agredidos e ameaçados de morte por  questionarem certas condutas de bastidores no futebol baiano. A ditadura brasileira mais recente era pródiga em vender ao cidadão médio uma imagem de um país perfeito, traduzido por obras grandiosas e programas travestidos de erradicação do analfabetismo os quais, em vez de preparar o cidadão, apenas preparavam minimamente a mão de obra...

(Continua...)

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